Há doentes com 37 anos a chegarem aos cardiologistas. Tabaco, peso e estilo de vida entre as principais causas.
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O enfarte agudo do miocárdio está a aumentar entre as mulheres, principalmente nas idades mais jovens. Esta é a perceção da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), a propósito do Dia Mundial do Coração que se assinala esta terça-feira. Em 2017 morreram de enfarte 1917 mulheres e 2625 homens, dizem os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). Mas a perceção dos cardiologistas no dia a dia é que as mortes no feminino, cerca de duas mil por ano, já são superiores às dos homens, "numa faixa etária mais avançada".
João Brum Silveira, presidente da APIC, revela ao JN que são cada vez mais as mulheres jovens a chegarem às urgências de cardiologia. "As mulheres começaram a copiar o estilo de vida dos homens. Têm trabalhos de mais responsabilidade, mais agressivos, mas continuam a ter de conciliar o emprego com a vida familiar. Alimentam-se mal, ganham peso, ficam com hipertensão e diabetes, fumam desde muito jovens. Basta haver uma predisposição genética e temos enfartes aos 37,38 e 42 anos".
O que era "extremamente raro" começa a ser cada vez mais usual. Até aqui, os enfartes nas mulheres ocorriam principalmente depois da menopausa. Até essa idade, "as próprias hormonas são protetoras da arteriosclerose", conta. Mais cedo, só em pessoas com problemas genéticos ou diabetes.
Sintomas diferentes
Outro fator que leva ao alerta dos médicos é a dificuldade que as mulheres mais novas têm em identificar os sintomas do enfarte, que "por não serem tão típicos como os dos homens", leva a que cheguem "muito mais tarde" aos hospitais.
"Não têm dor tão intensa ou, mesmo tendo, até são capaz de aguentar mais tempo". Acima dos 65, anos, como as "coronárias nas mulheres são mais pequenas a doença tem tendência a ficar mais difusa. Nos homens é mais focal", explica o especialista do Hospital de Santo António.
Quando demoram a chegar ao hospital, "o tratamento é oferecido de forma mais tardia" e o "prognóstico a longo prazo não será tão bom". Por isso, a APIC lançou uma campanha em março intitulada "Cada segundo conta".
INEM enviou 429 doentes para a Via Verde Coronária
Entre janeiro e agosto, o INEM encaminhou 429 casos de enfarte agudo do miocárdio para os hospitais. Foram mais cinco do que no mesmo período de 2019. João Brum Silveira apela aos cidadãos que recorram ao 112 em vez de irem ao hospital.
Quanto a sintomas, ter em atenção às dores no meio do peito, com ou sem irradiação para o braço esquerdo, nas costas ou mandíbula, suores frios, acompanhados de náuseas ou vómitos.