Na feira de Barcelos, Tavares ouviu o povo "sem papas na língua" e pediu a eleição do "filho da terra"
Rui Tavares foi à feira de Barcelos apelar à eleição do "filho da terra" que concorre por Braga, garantindo que o Livre faz um "debate de política e não de poleiro". O líder do partido ouviu gente sem papas na língua e até amoleceu o coração de Alzira, uma eleitora "zangada" que acabou convencida com a visita.
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Na azáfama típica de uma manhã de feira, Rui Tavares mostrou-se sempre sereno no objetivo: quer aumentar a bancada parlamentar do Livre. Sem apontar a um número concreto, para não agoirar, o porta-voz está confiante na eleição por Braga, Aveiro e Leiria, mas não quer já "cantar de galo". Ainda assim, deu uma bicada à Direita: "Não pode contar com o ovo antes de ser posto".
Focado em eleger no Minho, o líder do partido visitou esta manhã as capoeiras e bancas de hortaliças da feira de Barcelos com o cabeça de lista, Jorge Araújo, um "filho da terra" que provou estar a jogar em casa. Sem grande aparato, a comitiva de cinco elementos percorreu os corredores apertados do mercado ao ar livre, apenas com bandeiras e panfletos na mão, arrancando sorrisos às vendedoras e aos visitantes. E, como em qualquer terra do Minho, com mulheres sem papas na língua, a capacidade de persuasão de Rui Tavares foi posta à prova, um desafio que o líder do Livre demonstrou estar à altura.
"Eu não vou votar em ninguém! Acabou a política para mim. Estou mesmo zangada", atirou Alzira Pedrosa, de cara trancada, mal percebeu ao que vinha o batalhão de jornalistas que cercava Rui Tavares. "Mas nós também estávamos, sabe? Por estarmos zangados e impacientes é que decidimos criar um partido para ver se as coisas mudam", tentou explicar o político. "É só a quilhar a gente, a quilhar a gente. Na minha família somos muitos e não vamos votar em ninguém. Acabou!", continuou a feirante de Fornelos, a esbracejar, enquanto explicava o motivo de tanta revolta, uma discórdia com a junta de freguesia por causa da construção de uma escola. Pacientemente, o porta-voz do Livre ouviu o desabafo durante alguns minutos e esforçou-se para acalmar a senhora de 73 anos. No final, o objetivo foi bem conseguido. "Já estou mais contente. Vou votar por vocês", declarou a "amiga" Alzira, para satisfação de Tavares.
Lutar pela dignidade de todos
Com Idalina Pereira, a conversa foi menos agitada, mas teve a mesma intensidade. "Gosto muito de o ver na televisão", começou por confidenciar a mulher da Apúlia, que foi à feira ajudar uma vizinha. Depois de 38 anos a trabalhar como empregada doméstica numa empresa, foi despedida abruptamente, "sem qualquer dignidade". "Ao fim de muitos anos, não valemos nada, infelizmente. Não gostei de como vim embora, mas quem manda são os grandes. É uma mágoa que sinto", desabafou. Há um ano no desemprego e com um marido reformado por antecipação, devido a uma deficiência, o dinheiro é pouco e não dá para "restaurar um bocadinho a casa", que já precisa de obras. "Dê cá um abraço", pediu Rui Tavares.
O testemunho de Idalina Pereira serviu para o porta-voz do Livre sublinhar a importância de cuidar dos mais vulneráveis, justificando que a dignidade de todos também contribui para o crescimento da economia. "Um país que tem a dignidade das pessoas no seu centro, não é um país que tenha parado de crescer para prestar atenção aos seus mais fracos e vulneráveis. Pelo contrário, é um país que aposta no desenvolvimento humano em todas as suas facetas", considerou Tavares, aproveitando para criticar uma vez mais a Iniciativa Liberal, partido que ambiciona ultrapassar a 18 de maio. Para o líder do Livre, os liberais são "extremistas" por defenderem a revisão da Constituição e estão a tentar "caricaturar posições do património europeu", como é ter um Estado Social, inegociável para o Livre.
Durante a visita de cerca de uma hora à feira de Barcelos, feita sem pressa, Rui Tavares fez questão de apresentar em todas as bancas a "cara" do distrito, Jorge Araújo, barcelense de Chorente, uma das 61 freguesias do concelho. Para satisfação de ambos, o cabeça de lista pelo círculo de Braga já era conhecido por alguns, inclusive por Graça Capelo, 58 anos, a vizinha que o conhece "desde o berço" e que acredita na sua eleição. "Vai lá chegar, então não vai? A gente tem de acreditar sempre", afirmou ao JN.
Para quem ainda não conhecia Jorge Araújo, Rui Tavares até criou um slogan improvisado. "É um rapaz de Chorente que é boa gente", anunciava o porta-voz do Livre. "E bonito, e bonito! A mãe que se ponha a pau", brincou Maria de Lurdes, outra das vendedoras, da freguesia de Vila Frescainha, desejando boa sorte ao partido. Para Rui Tavares, "bonito" é ouvir "mais sotaques" para fazer "um coro bonito" na Assembleia da República, algo que o líder do partido acredita que vai conseguir a 18 de maio.