A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou, esta sexta-feira, em conferência de imprensa, que as confraternizações familiares têm sido responsáveis por 67% dos últimos casos registados em Portugal e apelou às famílias para "confraternizar menos".
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Durante a habitual conferência de imprensa de atualização dos dados sobre a pandemia de covid-19 em Portugal, a ministra da Saúde, Marta Temido, disse que a taxa de letalidade global é agora de 2,5% e, nas pessoas acima dos 70 anos, de 13%. Neste momento, 97,3% dos casos ativos estão em casa e 2,7% em internamento.
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A ministra informou ainda que grande parte dos novos casos está associada a surtos. Há 381 surtos ativos em Portugal, 138 a Norte, 49 no Centro, 154 em Lisboa e Vale do Tejo, 19 no Alentejo e 21 no Algarve.
Sobre a taxa de incidência, esta foi de 64,6 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias e de 115,4 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. Já o RT mantém-se superior a 1 há vários dias.
Na quarta-feira houve novo recorde de testes: 28392
"Estes indicadores inspiram naturais preocupações sobre pressão do SNS. Passámos de uma média diária de 2500 testes em março para 19600 em outubro. No dia 7 de outubro houve um recorde de testes, com 28392, 8% dos quais deram positivo", informou a ministra, falando em "sinal de alerta". Marta Temido salientou também o aumento do número de ventiladores desde março, admitindo que a pressão sobre os profissionais de saúde é "elevada" e o "cansaço" após vários meses de pandemia, mas relembrando que "este não é o momento para ninguém desistir".
Sobre a utilização de máscara em espaços públicos, a ministra relembrou que no plano de outono/inverno já existe essa recomendação.
Sobre a orientação sobre gravidez e parto, a diretora-geral da Saúde afirmou que a DGS "sempre preconizou a presença de acompanhamento da mulher durante o parto, porque é o direito legalmente reconhecido", e fez "emitir uma atualização da orientação para que fique inequívoca a recomendação de acompanhamento durante o parto". "As unidades hospitalares devem assegurar as condições necessárias para garantir a presença de um acompanhante durante o parto, que deve estar com o equipamento de segurança", afirmou a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas. "Mas é preciso minimizar o contacto com os doentes internados no hospital", alertou.
Capacidade de camas para doentes com covid em Lisboa e Vale do Tejo longe "de esgotar"
Por sua vez, Luís Pisco, presidente da ARS Lisboa e Vale do Tejo, que participou na conferência desta sexta-feira, avançou números concretos sobre as camas em hospitais disponíveis para receberem doentes com covid-19. Segundo Luís Pisco, dos 16 hospitais em Lisboa e Vale do Tejo, 13 lidam com doentes com covid. Esses hospitais têm um total de 7083 camas, das quais 6630 estão a ser utilizadas "de maneira versátil para situações covid ou não-covid", assinalou o responsável.
O presidente da ARSLVT explicou ainda que dessas 6330 camas quantas mais forem destinadas a pacientes covid menos haverá para cirurgias e atividade programada, pelo que se torna necessário geri-las "muito bem" e isso é algo que os hospitais estão a fazer com "muito esforço".
Das 6630 camas, apenas 503 estão dedicadas exclusivamente à covid-19, mais 88 que são para doentes em espera para confirmar o diagnóstico, ou seja, 591 camas no total. Existem neste momento 388 doentes internados, sendo que ainda estão longe "de esgotar as camas para doentes covid", garantiu Luís Pisco.
Em unidades de cuidados intensivos há um total de 298 camas na região de Lisboa e Vale do Tejo, 200 para situações não-covid e 98 para doentes covid. Das 98, estão agora ocupadas 74, pelo que ainda existe "margem de progressão".
Há 28 surtos em escolas, com 175 casos confirmados
Questionada sobre a discrepância entre os números de surtos em escolas avançado pela DGS e pela FENPROF, Graça Freitas relembrou que "uma coisa são surtos e outra são casos isolados". Na última conferência de imprensa, a diretora-geral da Saúde tinha dito que havia 23 surtos em escolas, número contrariado esta sexta-feira pela FENPROF, que disse existirem 122 surtos ativos.
No entanto, Graças Freitas fez a distinção entre surtos e casos isolados nas escolas, sendo que em ambas as situações "as medidas de investigação epidemiológica são as mesmas", havendo sempre intervenção por parte da autoridade de saúde "no sentido de identificar os contactos de maior risco".
A diretora-geral da Saúde atualizou o número de surtos em escolas para 28, com 175 casos confirmados, o que "não quer dizer que não existam outros casos isolados" em escolas e que "felizmente não deram origem a uma cadeia de transmissão mas que dão origem a que os seus contactos vão para isolamento durante os dias necessários".
Confraternizações familiares responsáveis por 67% dos últimos casos no país
"O que verificamos é que as confraternizações familiares têm sido responsáveis por 67% dos últimos casos registados em Portugal. Esses eventos, que muitas vezes incluem refeições, sem máscara, levam a descontração e isso leva a contactos, que proporcionam o contágio. Apelamos às famílias para que tentem confraternizar menos, nesta fase em que o vírus está mais ativo em Portugal e na Europa", alertou a diretora-geral da Saúde.
Nos últimos dias, 4% dos casos de covid-19 investigados pelas autoridades de saúde foram em pessoas que estiveram fora de Portugal durante o período de incubação da doença. Referindo-se às viagens ao estrangeiro, às praxes no ensino superior e às receções a alunos de Erasmus, Graças Freitas lançou um aviso: "nós não estamos em 2019. Gostaríamos de estar, mas, de facto, estas pessoas originam surtos". "Surtos grandes, com muitas pessoas, que geram uma enorme carga de trabalho sobre os serviços de saúde para investigar todos os possíveis contactos, que levam ao aumento do número de internamentos e de casos graves", lamentou a diretora-geral da Saúde.
"As pessoas pensam que por serem novas nunca têm doença grave e isto não é verdade", alertou, lembrando que qualquer jovem portador da doença é também transmissor da mesma.
Há 21 surtos em instituições de saúde
Sobre os hospitais, o presidente da ARS Lisboa e Vale do Tejo admitiu que existem algumas preocupações, nomeadamente ao nível da repartição do esforço pelas várias unidades hospitalares. "Não pode acontecer haver hospitais muito sobrecarregados e outros com camas vazias", afirmou. Luís Pisco referiu ainda que a coordenação também deve ser feita pelas respetivas coordenações regionais de saúde em conjunto com os hospitais.
Relativamente a instituições de saúde do país, "neste momento estão 21 com surtos", quatro na ARS do Norte, três no Centro, 12 em Lisboa e Vale do Tejo, uma no Alentejo e uma no Algarve, disse Graça Freitas. Estes surtos "estão controlados, não têm originado subidas ou um aumento muito grande de casos" e alguns deles já têm pessoas a recuperar, assegurou a responsável.
Acerca do método de classificação das causas de morte de doentes, a ministra da Saúde admitiu que não é algo simples, como, por exemplo, nos casos em que um doente tem condições pré-existentes. Marta Temido afirmou que a determinação dos casos de covid-19 deve ser feita com rigor e seriedade, o que muitas vezes requer tempo, e referiu que esse trabalho é feito geralmente ao final de cada ano.
"A última informação de que dispomos é que não há associação, não é possível encontrar um nexo causal, entre determinados excessos de mortalidade face a períodos homólogos comparáveis e eventual quebra na prestação de cuidados de saúde", explicou a ministra, que assumiu o compromisso do Governo em estudar e partilhar a realidade, mas que não se pode "acelerar resultados" sob pena destes serem enviesados.
Prioridade para os testes nos lares
A ministra da Saúde afirmou na conferência desta sexta-feira que a prioridade de testagem de lares se mantém desde a primeira vaga da pandemia e que nem todas as estruturas residenciais para idosos são iguais, sendo que para que a testagem de prevenção seja efetuada é necessário avaliar sobretudo o número de utentes.
Relaivamente às estruturas que estão no processo de obtenção de licenciamento, o Governo garante um tratamento igual às restantes, mas alerta que a informação presente nas bases de dados é incompleta e por vezes inexistente.
Marta Temido deixou ainda um apelo sobre as urgências hospitalares: "Por favor não acorram desnecessariamente aos serviços de urgência", disse, relembrando a importância da Linha Saúde 24.
Mais 12 mortes e 1394 casos de covid, no segundo pior dia de sempre
Portugal ultrapassou a barreira dos mil casos diários de covid-19 pelo segundo dia consecutivo, ao registar mais 1394 novas infeções somando, ainda, 12 mortes.
Um dia depois de registar 1278 casos de covid-19, o segundo pior registo desde o início da pandemia, Portugal regista, esta sexta-feira, mais de mil casos diários em 24 horas. Ao somar 1394, o país contabiliza 83928 infeções por coronavírus desde 2 de março, quando a doença foi oficialmente identificada em terras lusas.
Segundo o boletim diário da DGS, divulgado esta sexta-feira, foram associadas mais 12 mortes à covid-19, para um acumulado nacional de 2062.