O médico Craig Spencer viajou para a Guiné Conacri quando o ébola enchia os jornais de notícias e de mortes, em meados de setembro de 2014.
Corpo do artigo
Teve alguma formação elementar sobre procedimentos, mas reconhece que o que encontrou no terreno durante aquelas cinco semanas estava fora do alcance da sua imaginação: serviços nacionais de saúde muito precários; instalações sem meios para acudir tantos doentes. "Fomos treinados pelas organizações, mas nada me havia preparado física e mentalmente para o que fui encontrar".
Uma das lições que deixou ontem aos médicos portugueses é a de que é "preciso estar mais bem preparado para não cometer erros". Dito isto, continua sem saber como se infetou, apesar de estar convencido que não se tratou de falha de protocolo. "Pode ter sido pelo contacto com as comunidades".
"Faltavam instrumentos básicos de laboratório e, muitas vezes, não podíamos tirar sangue para fazer análises porque até isso era perigoso. Eram muitos doentes para observar". O ritmo de trabalho era desgastante. Começava às sete da amanhã e o dia era dado por terminado às nove da noite.
Safou-se porque foi tratado em Nova Iorque com o soro experimental criado a partir de doentes curados. E por isso carrega a culpa de ter sido um privilegiado (já morreram mais de dez mil pessoas devido ao ébola). "Não é justo", insistiu. "Quando fui tratado tinha 30 pessoas a cuidar de mim e no hospital estavam 1700 médicos. No total dos três países onde estava o surto - Libéria, Guiné Conacri e Serra Leoa - existiam 1600 médicos..."