Refood assinala 11 anos de existência com novos núcleos locais em várias zonas do país.
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Transformar o que seriam desperdícios de restaurantes e pastelarias em refeições para carenciados foi o mote que inspirou Hunter Halder, um norte-americano radicado em Portugal, a fundar a Refood. Fez em março 11 anos que ocorreu a primeira recolha e distribuição de alimentos. Para trás fica um caminho que levou a instituição a uma dimensão inimaginável, com os atuais 62 núcleos espalhados por todo o país, 6100 voluntários, e com o projeto já replicado noutros países. E nem quando a pandemia fechou restaurantes e retraiu o número de colaboradores o ânimo esmoreceu.
Hunter começou este sonho, que muitos apontavam como "impossível", sozinho e de bicicleta numa zona "premium" de Lisboa: as Avenidas Novas. "Antes de arrancar, distribuí panfletos pelas caixas do correio de sete quarteirões a pedir caixas de plástico para acondicionar as refeições e voluntários para as entregas. Os papéis chegaram a umas 2000 pessoas e recebi duas respostas", recorda, sorridente.
Mas a ideia fixa de acabar com o desperdício e combater a fome não lhe saía da cabeça. Hoje é com "o coração cheio" que lembra os tempos difíceis da comida transportada em cestos na sua bicicleta - "os problemas eram a chuva e os desastres com as sopas" -, antes de dar conta do crescimento acelerado do projeto quando as pessoas interiorizaram os valores da Refood: sustentabilidade, solidariedade e integração.
Os primeiros anos foram de expansão. A Refood expandiu-se em Lisboa e o projeto começou a ser replicado em outras cidades, com a abertura de cada vez mais núcleos. Até que, em 2020, a pandemia trouxe o mais duro golpe. "Nos primeiros dias, olhei à volta e, praticamente, tinha ficado com zero voluntários, porque as pessoas se fecharam em casa com medo. E os restaurantes tinham encerrado", recorda o norte-americano, logo acrescentando; "Não fiquei a chorar. Encarei a situação como um desafio, porque as pessoas tinham de continuar a comer".
Sem restaurantes, os núcleos da Refood viraram-se para os supermercados, autarquias e instituições. Alguns núcleos acabaram por ficar pelo caminho, mas a recuperação está aí. Com 62 núcleos ativos, a Refood prepara a abertura em mais 12 cidades do país. Para assinalar os 11 anos, haverá, no final de abril, um megaevento em Lisboa, cujo programa ainda não está fechado.