Vítor Pereira, funcionário da limpeza urbana em Vizela, destaca a perícia e o sangue frio que a profissão exige, sobretudo porque é preciso lidar diariamente com a impaciência dos automobilistas, que, quando se cruzam com o pesado, só pensam em ultrapassá-lo "a todo o custo":
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Escolheu fazer um trabalho que poucos querem pela liberdade que lhe dá. Vítor Pereira é motorista de camiões de lixo há 13 anos, tantos como os que leva com habilitação para conduzir pesados. A profissão obriga-o a manobras de perícia e, sobretudo, a lidar com a impaciência alheia.
Começou em 2010 na Ecoambiente e mantém-se na empresa até agora, primeiro em Fafe, atualmente em Vizela. "Naquela altura, era um trabalho muito mal visto. Estávamos em crise, com o desemprego em alta e eu arranjava emprego para algumas pessoas que, mesmo passando dificuldades, não aceitavam, pela imagem que tinham do "homem do lixo"", recorda. Vítor Pereira congratula-se com o facto de as mentalidades estarem a mudar e de esse estigma se notar cada vez menos.
José Mendes, de 38 anos, cantoneiro há 10, acha que o que contribuiu para que mais pessoas aceitassem fazer o trabalho foi a redução da componente física. "Há dez anos passávamos 30 toneladas à mão por dia, hoje não vai além de cinco", esclarece.
Quem vai na estrada e vê um camião do lixo o que quer é ultrapassar. Ninguém gosta de nos encontrar
A tarefa de recolher os resíduos produzidos por uma cidade inteira ao volante de um camião não é tarefa fácil e exige muita lucidez até porque há que contar com a impaciência dos outros.
"Quem vai na estrada e vê um camião do lixo o que quer é ultrapassar. Ninguém gosta de nos encontrar", lamenta Vítor Pereira, reconhecendo que, ainda assim, nos anos que leva de serviço foi vendo o comportamento dos automobilistas a melhorar.
"O que dá gosto são as crianças que vêm à varanda para nos ver passar", conta o motorista. "Por vezes, até paramos para dizer olá", acrescenta, sublinhando que, "com tantos anos a fazer a mesma volta", as pessoas vão começando a conhecer a equipa que segue no pesado. E as reações são simpáticas. "Às vezes deixam-nos o pequeno-almoço pago na pastelaria onde paramos", diz Vítor Pereira.
Falta de civismo
Para o motorista e para os cantoneiros que o acompanham, o que compensa no trabalho é a liberdade. "Somos nós que gerimos. O horário começa às sete horas, mas nós arrancamos às seis. Estamos sempre em movimento e a ver gente", diz.
Mas conduzir um veículo pesado desta envergadura num tecido urbano, no caso Vizela, também se afigura um risco. "No meu caso, basta-me um pequeno abanão provocado por um paralelo e lá vai um espelho. É muita responsabilidade andar permanentemente a fazer manobras com um camião destes", queixa-se Vítor Pereira.
Já Hugo Miguel, de 35 anos, cantoneiro há cinco meses, ainda se surpreende com a falta de civismo: "Em Vizela, as pessoas têm um serviço gratuito de recolha de monstros, mesmo assim encontramos para-choques, móveis, colchões e frigoríficos no lixo".