No dia Mundial da Bicicleta, os conselhos de especialistas para pedalar em segurança
A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 3 de junho como Dia Mundial da Bicicleta. Num contexto de aquecimento global, em que o consumo de combustíveis fósseis é um problema para o meio ambiente, o uso de meios suaves de transporte pode ser uma solução para um futuro mais sustentável e até saudável.
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Mas andar de bicicleta, especialmente nas cidades, pode ser um desafio de vida para os ciclistas, expostos muitas vezes a comportamentos imprudentes dos condutores e, também, em certos casos, vítimas da própria inexperiência. Para minimizar os riscos, três especialistas dão sugestões que podem ser úteis a quem está a começar ou a pensar em apostar mais nas viagens em duas rodas. Cândido Barbosa, atual presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), diz que há uma regra muito simples. "Na bicicleta, há o sempre e o nunca: usar sempre capacete e nunca andar de auscultadores nos ouvidos", explica o antigo ciclista, que ficou conhecido como o "Foguete de Rebordosa".
Cândido Barbosa fez mais de 500 mil quilómetros a pedalar e sabe bem que a segurança é fundamental quando se anda de bicicleta. "Nunca devemos andar sozinhos e devemos ter sempre um meio de comunicação por perto, um telemóvel por exemplo", diz antigo ciclista profissional. "Se possível ter um geolocalizador ligado, para ser mais fácil de encontrar em caso de acidente", acrescenta.
Vera Diogo, presidente da MUBI - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, tem uma experiência mais citadina da bicicleta e recomenda o "Bike Buddy", um programa da MUBI que ajuda os iniciantes a orientarem-se em cima de duas rodas no caos do trânsito urbano. "É uma pessoa que ajuda nos primeiros passos e explica, por exemplo, como nos devemos posicionar na via”, diz. “Há pessoas que acham que é andar o mais encostado possível à direita, mas não, porque temos de estar visíveis", explica.
A mensagem aplica-se também fora da cidade, onde até é mais perigoso, entende Cândido Barbosa. "Devemos andar o mais identificados possível e visíveis. Nunca no meio da via nem na berma ou passeio, mas numa posição que é a correta, entre 50 centímetros a um metro da berma, para sermos vistos", diz o presidente da FPC, citando alterações ao Código da Estrada que protegem o ciclista. "Na pior das hipóteses é melhor andar em paralelo, porque obriga o condutar a afrouxar para nos ultrapassar. Se não formos um obstáculo, o carro que vem a 80 km hora não vai abrandar e se surgir algo de frente não vai ter tempo para travar ou desviar-se", acrescenta.
Tiago Cação, que começou ontem uma volta a Portugal em bicicleta para levar às 278 autarquias do território continental uma carta com sugestões e soluções para uma melhor mobilidade urbana e mais qualidade de vida, concorda com Cândido Barbosa. “A perceção do risco é maior na cidade, mas o risco é maior no meio rural, onde as velocidades são maiores”, alertou o ultramaratonista em ciclismo, que esta terça-feira andará pelo Minho na segunda etapa de um périplo nacional que o vai levar a percorrer mais de seis mil quilómetros em 30 dias. Um percurso que pode seguir aqui em direto.
Para as pessoas que residem e trabalham nas cidades, e queiram iniciar-se nas lides velocipédicas, Vera Diogo aconselha a "começar devagar", com percursos curtos, de casa à mercearia, por exemplo, antes de grande aventuras até ao trabalho. "É importante também fazer um reconhecimento do percurso, para identificar possíveis perigos", aconselha, sugerindo a associação à MUBI, onde pode encontra parceiro de viagem, ajuda e conselhos para uma mobilidade limpa, suave e segura na selva urbana.
Mesmo com toda a experiência, haverá muitas vezes situações de atrito na estrada, porque o ciclista é "um obstáculo", como diz Cândido Barbosa, e não são poucos os condutores que reagem mal, nomeadamente com impropérios e incompreensão. “Há um desconforto inicial, vamos ouvir as pessoas a criticar”, reconhece Tiago Cação, sublinhando que “a fórmula mágica é continuar, ignorar e não ter medo” de andar na estrada. “Acredito piamente que ninguém nos vai atropelar intencionalmente”, acrescentou.
Ultramaratonista, Tiago Cação tem milhares de quilómetros percorridos em duas rodas. "Há sempre risco, naturalmente, seja de bicicleta, a pé, mota ou carro”, disse. Mas também há benefícios, na carteira e para o ambiente, "contribuindo para cidades mais limpas e saudáveis" com o uso da bicicleta, defende Vera Diogo, e para a saúde pessoal. "Andar de bicicleta faz bem ao coração e aos pulmões", diz Cândido Barbosa. E à cabeça. "Circular numa estrada com pouco trânsito, a ouvir a natureza e os sons da bicicleta dá uma grande sensação de bem-estar", acrescenta o presidente da FPC.