Profissional da STCP aponta o excesso de trânsito como causa da lentidão dos transportes. Garante que o mais positivo é poder deslumbrar-se todos os dias com a "linda cidade que é o Porto", mas diz que o excesso de trânsito continua a ser um problema, aliado "à falta de respeito de alguns utentes e automobilistas".
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Cristiano Sousa tem apenas 32 anos mas um currículo experiente como motorista de transportes públicos. Natural do Porto, foi em Lisboa que se iniciou na atividade, ao serviço da Rodoviária, tinha 21 anos. Calhou-lhe em sorte o percurso do 21, entre o Campo Grande e Caneças.
Foi o início de uma aventura feliz que jamais imaginou abraçar. "Aprendi muito em Lisboa. Existem vários problemas, como a segurança dos profissionais. Felizmente, nunca passei por nenhum, embora conheça colegas que foram assaltados ou agredidos. Mas, em termos de mobilidade, é uma experiência excelente para um motorista de autocarro", classifica.
Há cinco anos surgiu a possibilidade de regressar à cidade natal. E não pensou duas vezes: assinou pela STCP e por lá continua. As diferenças entre os dois grandes centros urbanos encontrou-as logo. "A primeira linha que fiz na STCP foi a 208, que liga a Avenida dos Aliados a Aldoar. Percebi que as pessoas no Porto são mais nervosas na estrada do que as de Lisboa", lembra. E foi esse percurso, de 30 a 40 minutos, que lhe mostrou desde logo as dificuldades maiores com que iria ser confrontado nas ruas do Porto.
"A grande causa dos transportes serem lentos tem a ver com o trânsito e com as infraestruturas que faltam para o facilitar e que as autoridades não criam", garante. Tudo ligado ao excesso de automóveis, mal geral que atravessa cidades, gerações e modos de encarar a mobilidade. "O trânsito fluiria melhor se as pessoas, no geral, alterassem a mentalidade. Têm de deixar de utilizar veículo próprio, não só no Porto mas em todas as grandes cidades", adianta. "Deveria mesmo existir uma política pensada nesse sentido, o que neste momento parece não acontecer", lamenta. Habituado que está a calcorrear as ruas do Porto e a detetar os defeitos, deixa uma sugestão a quem de direito: "Há faixas BUS mal feitas nas quais bastariam pequenas alterações para melhorar a fluidez do tráfego", garante.
Pandemia estraga rotinas
Depois da linha 208, veio a 500, entre a Praça da Liberdade e Matosinhos, sempre na janela temporal entre as 5 e as 22 horas, dependendo o horário laboral do turno que lhe calhasse em sorte. "É uma linha muito interessante porque junta dois mundos. Apesar de transportar muitos turistas, tem também imensos passageiros habituais, o que cria bastante proximidade", descreve.
A pandemia, essa, veio estragar rotinas habituais. "Passei, e passaram todos os meus colegas, a conduzir qualquer linha. Deixámos de estar ligados em exclusivo a uma linha habitual", relata Cristiano, que gostaria de ver os transportes públicos encarados com outra perspetiva e utilidade, o olhar de quem os encarasse "como solução de mobilidade dentro das cidades". Porque é na melhoria da mobilidade que vê um futuro melhor, em que as soluções deixem de privilegiar o uso de carro particular. Defende, por isso, a criação de condições para essa opção, como melhores ligações e mais frequência de autocarros. "Sairíamos todos a ganhar", remata.