O Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza revelou, na terça-feira, que o Norte continua a ser a segunda região do país com maior taxa de risco de pobreza e exclusão social e de pobreza monetária (21%), apesar de ter registado uma evolução positiva de um ponto percentual em relação a 2023.
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Segundo Elizabeth Santos, daquele Observatório,“se não tivesse existido uma reorganização das NUT”, em 2024, a região Norte seria mesmo “a região continental com maior risco de pobreza e exclusão social”.
Aquela responsável considerou ontem, no I Fórum Social do Minho, em Viana do Castelo, que, pela análise de vários indicadores, como dados do INE e Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR), existem zonas do território nortenho, como Trás-os-Montes, Douro, Alto Tâmega e Barroso, que podem apresentar níveis de vulnerabilidade à pobreza superiores aos máximos nacionais: Península de Setúbal, que lidera no continente com 21,8%, Açores e Madeira, onde se encontram as taxas mais elevadas em termos globais, respetivamente 28,4% e 22,9%.
Realidades escondidas
Elizabeth Santos defendeu que é necessário um grande investimento em termos de indicadores estatísticos para se poder intervir mais justamente no combate à pobreza. “Quando achamos que a Península de Setúbal é a região com maior taxa de pobreza, corremos os risco de ter menos investimento em territórios tão ou mais vulneráveis e que estão escondidos em médias regionais”, declarou.
“Essa comparação, em termos científicos e de conhecimento da pobreza, diz-nos muito pouco. A verdade é que se tivéssemos a Região Norte dividida em sub-regiões, teríamos territórios com taxas de pobreza, provavelmente, muito superiores às da Península de Setúbal e muito próximas das regiões autónomas, que foram sempre regiões à parte com valores elevados”, indicou.
A responsável referiu que a taxa de 21% é apenas “uma média para toda a região” do Norte, mas que abarca diversas realidades. “A Área Metropolitana do Porto apresenta dados muito próximos de Lisboa (16,5%) e temos territórios como Trás-os-Montes, Alto Tâmega, Barroso e Douro, que apresentam indicadores com uma vulnerabilidade [à pobreza] muito grande”, disse, destacando ainda que as regiões do Minho [Cávado, Ave e Alto Minho] apresentam “valores intermédios”.
“Um dos problemas da Região Norte é a pobreza dos trabalhadores. A Península de Setúbal tem indicadores mais elevados em termos de pobreza monetária, mas é a Região Norte que tem a maior taxa de pobreza entre os trabalhadores”, notou, explicando que esta realidade se deve a fatores como “salários baixos e precariedade laboral”.
O peso das casas
Ainda assim, Elisabeth Santos destacou que a Grande Lisboa, apesar de ser “o território menos vulnerável” em termos de pobreza e exclusão social (16,5%), é “o segundo com maior taxa de privação material”. “Isso significa que há grandes desigualdades sociais em Lisboa”, explicou.
No I Fórum do Minho, que reuniu representantes de diversos organismos municipais e nacionais, a habitação e os seus custos elevados foram referidos como um dos “principais e novos fatores” que geram pobreza. No caso do Minho, a região do Cávado foi indicada como a que apresenta custos mais elevados.
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RSI
No Norte, os beneficiários do RSI correspondem a 2,7% da população, mais 0,1% do que a média nacional.
Dados
46 por cento do ganho médio de um trabalhador por conta de outrem do Norte é para pagar a renda da casa. A média nacional é 49%.
29 pessoas por km2 vivem no Alto Tâmega e Barroso. A Área Metropolitana do Porto tem 850 pessoas.