O CDS perdeu quase 60 mil votos nos concelhos a que concorreu em nome próprio nas autárquicas deste ano. O partido só conseguiu capitalizar nos municípios em que surgiu coligado com o PSD, somando agora 41 câmaras, contra as 19 de há quatro anos. Nuno Melo - que hoje apresenta, no Porto, a candidatura à liderança do CDS - criticou o aumento da dependência face aos sociais-democratas. Do total de votos nas listas em que o CDS participou, 90,7% foram em candidaturas lideradas pelo PSD.
Corpo do artigo
Em 2021, o CDS apresentou-se a votos, a sós ou a liderar coligações, em 95 concelhos - menos 57 do que há quatro anos. Em contrapartida, o número de coligações lideradas pelo PSD aumentou: segundo o site oficial dos resultados das autárquicas de 2021, houve agora 134, mais 39 do que as 95 que existiram em 2017.
O menor número de listas próprias do CDS contribuiu para a perda de influência do partido. Dos 1 006 615 votos recebidos - entre candidaturas próprias e coligações -, 90,7% foram confiados a listas lideradas pelo PSD. Isto é, as candidaturas do CDS em nome próprio ou a liderar coligações apenas representam 9,3% do bolo total - menos 15% do que os 24,3% de 2017.
três vitórias de "chicão"
Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do partido, defendeu-se, no rescaldo das eleições, dizendo que "ninguém, nas mesmas condições, seria capaz de fazer melhor". Em consequência, anunciou a recandidatura à liderança, processo que irá decidir-se no congresso com data apontada para 27 e 28 de novembro (ler caixa).
Nuno Melo, por seu turno, viu nos resultados a prova de que o partido está "débil" e excessivamente dependente das coligações. Segundo o que o eurodeputado e candidato a destronar "Chicão" escreveu no Facebook, "a história mostra" que o PSD só olhou "com justiça" para o CDS em coligações sempre que os centristas estiveram "fortes eleitoralmente no momento das negociações".
Melo destacou também que, nas grandes cidades, o CDS ficou "infelizmente abaixo do Chega e quase a par da IL". Somando listas próprias e coligações lideradas, os democratas-cristãos obtiveram 1,96% do total nacional em 2021 (93 888 votos), contra 4,3% em 2017 (214 026).
Ainda assim, se se contabilizarem as coligações com o PSD, o CDS teve mais 125 776 votos do que em 2017. De olho nas legislativas, "Chicão" vê nesse fenómeno um passo em frente para "derrubar o socialismo".
Nas seis câmaras do CDS, o líder teve três vitórias. Apesar da perda de 4 379 votos, conseguiu segurar todas as autarquias, passou a ter maioria absoluta em Oliveira do Bairro (são agora seis em seis) e elegeu mais um vereador do que em 2017.
Congresso vai ser marcado em reunião "quente"
Do total de votos do CDS (a sós ou coligado com o PSD), menos de 10% foram confiados a listas democratas cristãs ou lideradas por estes. Mais de 90% foram para listas encabeçadas pelo PSD
Foi este o resultado autárquico nacional do CDS, somando listas próprias e coligações lideradas. Nas primeiras autárquicas a que concorreram, o Chega teve 4,16% e a IL 1,3%.
O Conselho Nacional de amanhã, que vai marcar o congresso eletivo para os dias 27 e 28 de novembro, no Porto, promete ser "quente". Um grupo de críticos já contestou a forma como a reunião foi marcada e também o curto prazo de dois meses até ao conclave para que seja consolidada uma alternativa à liderança. Pedro Mota Soares, João Gonçalves Pereira e Nuno Magalhães acusaram até a direção de "cercear direitos". Numa carta, 25 dirigentes pedem que o congresso, que irá opor Francisco Rodrigues dos Santos e Nuno Melo, seja marcado, sem antecipação, ou seja para janeiro.