Nove em cada dez portugueses considera que a corrupção é um problema grave (93%), o que revela uma preocupação maior do que na União Europeia. Um novo barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos mostra que a maioria da população está descrente quanto à eficácia no combate ao fenómeno.
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Nove em cada dez portugueses considera que a corrupção é um problema grave (93%), um resultado que revela existir em Portugal uma preocupação maior do que na União Europeia (cuja média é de 70%). As conclusões são do novo barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos que mostra também que a maioria dos inquiridos (51,6%) crê que o combate a este crime é ineficaz e apenas 13% confia totalmente na eficácia das respostas contra este fenómeno. Os investigadores alertam que esta percepção generalizada lesa a confiança nas instituições políticas e a forma como a democracia funciona no país.
O estudo, que expõe a percepção da sociedade portuguesa à corrupção, tem como base mais de mil entrevistas a residentes em Portugal continental, com mais de 18 anos, realizadas entre março e abril deste ano, e evidencia que a corrupção que preocupa a opinião pública não é apenas o fenómeno tal como a lei o define, isto é, de que tem de haver uma violação da lei para ser considerado corrupção, mas sobretudo comportamentos relacionados com "interesses públicos e privados ao mais alto nível", que decorre sob "uma aura de legalidade e de normalidade institucional". Mas, regra geral, os participantes concordarem que um comportamento tem de ser ilegal para ser considerado corrupto, a maioria não concorda.
De acordo com o estudo – coordenado pelos investigadores Luís de Sousa e Susana Coroado – o poder político (Governo, partidos e políticos) é apontado por 40% dos inquiridos como o principal responsável dessa ineficácia, seguindo-se a sociedade civil (cidadãos, comunicação social e empresas) (31%) e o poder judicial (25%). Quanto às causas , a maioria dos inquiridos (71,9%) considera que o fraco desempenho da Justiça se deve à existência de “megaprocessos demasiado complexos e intermináveis”, bem como de “demasiadas opções de recurso” (43,4%) e à dificuldade de provar as práticas (28,5%). E não tanto à falta de meios (24,5%).
Maior tolerância para as cunhas
Para os participantes, todas as esferas da vida social são medianamente corruptas. No entanto, os clubes de futebol e os partidos políticos são as esferas mais expostos à corrupção. Logo a seguir surgem as autarquias, o Governo e a Administração Pública. No fundo da lista encontram-se as forças de segurança e de defesa. Dentro da política, os inquiridos acreditam que dois em cada três políticos em Portugal são corruptos.
Olhando para os tipos de corrupção, atos como abuso de informação, "puxar de cordelinhos" ou o tráfico de influência são os mais condenados pelos inquiridos. Ainda que o fenómeno seja largamente condenado, há uma maior tolerância social para as portas giratórias e as cunhas. Apesar disso, os participantes reconhecem os atos como corrupção, mesmo que tenham consequências positivas para a comunidade.
O estudo revela ainda que mais de metade dos inquiridos (54%), ou seja, uma em cada duas pessoas sente que a corrupção afeta diretamente a sua vida. A política é a área que dizem "atrair pessoas que procuram obter benefícios particulares às custas do bem comum", mas a maioria acredita que "até as pessoas honestas se deixam corromper quando ocupam um cargo de poder".