Projeto é lançado, este domingo, para voltar a levar a Esquerda para o terreno, junto dos bairros e das pessoas, por oposição à política institucionalizada.
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Uniram-se contra a falta de soluções concretas para os múltiplos desafios que o país enfrenta, num contexto de crescimento da extrema-direita e com um Governo da AD. Um novo movimento cívico, que junta cerca de 80 subscritores iniciais, entre investigadores, advogados, independentes e figuras da esquerda, nasceu de uma insatisfação com o atual estado do debate político e com os sucessivos maus resultados eleitorais das forças progressistas.
Este domingo, no bairro Padre Cruz, em Lisboa, realiza-se o primeiro fórum do movimento para discutir o manifesto “Por um Portugal livre, justo e solidário”. O coletivo propõe um novo modelo económico para o país, com melhores salários, uma política de redistribuição que promova o crescimento, que reforce o poder dos sindicatos, e que o Estado tenha um poder mais estratégico na orientação da economia. O local do evento não foi escolhido ao acaso: simboliza uma Esquerda que quer regressar ao terreno, junto dos bairros e das pessoas, e romper com o “jogo político” institucionalizado, explica, ao JN, Jorge Bateira, um dos fundadores do movimento.
Para este novo coletivo, que quer “dinamizar o debate público”, a crise atual é estrutural. E a resposta tem de ir “à raiz do problema” para criar um modelo de sociedade e desenvolvimento que rejeite pressupostos do neoliberalismo, das “contas certas” a qualquer custo e da obsessão com excedentes orçamentais.
“Não se pode enfrentar esta crise com medidas avulsas ou bandeiras [setoriais]. É preciso uma estratégia com visão e metas muito bem correlacionadas com o modelo de sociedade e de desenvolvimento que defendemos e que dá uma luz ao fundo do túnel para as pessoas”, defende o economista e professor universitário aposentado.
O ponto de partida é claro: a Esquerda precisa de sair da “bolha mediática e parlamentar” e voltar a enraizar-se na sociedade. “O debate institucional, parlamentar, e mediático não pode esgotar a intervenção política. Pelo contrário, tem de ser a consequência de uma intervenção nos bairros e nas regiões onde há problemas graves. Sabemos que não é fácil porque, nos últimos anos, o modo de vida tornou-se muito individualista, muito fechado e descrente da intervenção política. Mas, para a Esquerda recuperar, tem de viver com os seus militantes no terreno, a ajudar as pessoas. O que propomos é uma intervenção a partir de baixo”, explica Jorge Bateira.
O programa do evento, no Centro Cultural de Carnide, foi pensado para dar espaço à participação dos inscritos, com intervenções assumidas como pontos de partida para a construção de um documento síntese final. A partir daí, serão definidos os passos a dar a seguir.
Novo partido?
Embora o movimento ainda esteja em fase embrionária, Jorge Bateira não exclui a criação de um novo partido político. “É uma hipótese. Vai depender da mobilização das pessoas, da capacidade de organização e das condições materiais. Mas a vontade existe”, admite. Por agora, o objetivo é claro: começar um processo de escuta, formação e mobilização. “Faço um apelo a todos os que sentem vontade de contribuir para uma inovação no debate público e na intervenção política e social: saiam do sofá e das redes sociais e venham ter connosco”, desafia.
Pobreza e condições laborais na agenda
O fórum nacional do manifesto “Por um Portugal livre, justo e solidário” reúne vozes diversas em cinco debates, das 11 horas até às 17, no Centro Cultural de Carnide, em Lisboa, sobre o papel transformador das organizações locais, a crise ambiental global, os desafios da economia portuguesa no novo contexto internacional, a crise da habitação como rutura do “Pacto de Abril” e o combate à pobreza e a desigualdade laboral.