Nos primeiros quatro meses de 2020, os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) gastaram 65 milhões de euros para tratar a infeção por VIH/sida.
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A introdução de um novo medicamento e mais doentes em tratamento explicam o aumento de 2,9 milhões de euros em relação ao mesmo período de 2019. De janeiro a abril do ano passado, o custo destes fármacos tinha registado uma quebra significativa em relação a 2018, superior a dez milhões de euros.
Estes números fazem parte do balanço da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), sobre a utilização de medicamentos hospitalares, que aponta para uma despesa de 460,2 milhões de euros, tratando-se de um aumento de 3,7% (mais 16,4 milhões) em relação período homólogo.
Ricardo Fernandes, diretor-executivo do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), sublinha que a subida dos medicamentos para o VIH "não pode ser encarada como uma coisa negativa". Por um lado, explica ao JN, porque a despesa com estes medicamentos reduziu substancialmente, de 2018 para 2019, com a comercialização do genérico do Truvada, "um dos medicamentos mais usados no Mundo, que era também dos mais caros".
Por outro, acrescenta, os dados de 2020 indicam a introdução de um novo medicamento patenteado, que nem sequer aparecia nos números de 2019. O Symtuza (nome comercial), que junta cinco fármacos (darunavir, cobicistate, emtricitabina, tenofovir e alafenamida) registou um aumento de 148,4%, para seis milhões de euros. "É um medicamento conveniente para pessoas que ficam resistentes a outra medicação e supostamente tem menos efeitos secundários", sublinhou. No entanto, "pertence à classe mais cara" de fármacos de primeira linha.
Mais pessoas em tratamento
O responsável lembrou ainda que Portugal é dos países da Europa Ocidental com mais casos de infeção por VIH/sida por milhão de habitantes e que o número de pessoas em tratamento está a aumentar. Olhando para os números globais, os dados do Infarmed mostram também que é a consulta externa, que engloba os produtos cedidos ao exterior, a absorver quase metade da despesa total (49,4%), num valor superior a 227 mil euros. Se a estes se juntar os administrados aos doentes em hospital de dia, a percentagem aumenta para mais 83% (383 mil euros).
Porém, como as medidas resultantes do combate ao novo coronavírus obrigaram ao adiamentos de cirurgias programadas, e os utentes deixaram de afluir às urgências hospitalares, verifica-se uma redução dos medicamentos administrados nos blocos e nas cirurgias de ambulatório, internamentos, meios complementares de diagnóstico e nos serviços de urgência.
No primeiro quadrimestre de 2020, estas áreas de prestação de cuidados representaram 68,5 milhões de euros da despesa em medicamentos. No ano passado, custaram 80,2 milhões.
Oncologia absorve um terço dos custos com fármacos
Os medicamentos com indicação oncológica representam a área terapêutica em que se verificou um maior aumento em termos absolutos de janeiro a abril: 13,4 milhões de euros. Os 145,5 milhões despendidos em quatro meses para tratar o cancro representaram quase um terço (31,6%) do total da despesa.
Por área terapêutica, os medicamentos imunomoduladores receberam a maior fatia (32,3%), com um encargo superior a 148 milhões. Destes, as substâncias específicas para o tratamento oncológico aumentara, 5% para 68,7 milhões de euros.
Outros dados a reter
14,2% da despesa
Nos quatro primeiros meses de 2020, quase 15% da despesa hospitalar com medicamentos destinaram-se aos tratamentos para o VIH. As substâncias ativas com maior aumento absoluto também são para esta patologia.
1298 milhões de euros
Foi o valor total da despesa dos hospitais com medicamentos em 2019. Representa um aumento de 2,3% (mais 29,4 milhões de euros) em relação ao ano anterior .
Vendas nas farmácias
De janeiro a abril, os portugueses compraram 56,9 milhões de embalagens de medicamentos nas farmácias, que representou uma subida de 3,4% (1,9 milhões) em relação aos primeiros quatro meses de 2019. Tal como o JN noticiou, a despesa com fármacos representou um encargo de 253,7 milhões de euros (mais 4,6%) para os utentes e de 478,5 milhões (mais 10,8%) para o SNS.
Genéricos são 48,9%
Quase metade dos medicamentos vendidos em farmácias neste período foram genéricos. Representaram 48,9% e aumentaram 0,4 pontos percentuais.
Sem receita
Entre janeiro e março, foram comercializadas mais de 13 milhões de embalagens de medicamentos não sujeitos a receita médica (mais 2,2 milhões) que custaram 101,6 milhões de euros. O paracetamol foi a substância ativa com maior volume de vendas.
Doenças raras
A despesa com medicamentos órfãos, para tratar doenças raras, custou aos hospitais 64,7 milhões de euros, nos primeiros quatro meses do ano. Subiram 15,4% em relação ao período homólogo e representaram 14% da despesa. A área da oncologia absorveu mais de 36,4 milhões de euros.