Novos cabos submarinos que ligam o continente às ilhas serão usados para detetar sismos e tsunamis
Os novos cabos submarinos que irão substituir a infraestrutura que liga atualmente o território continental às ilhas terão instalados sensores para detetar sismos e tsunamis. O Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA) recomenda que seja alargada a rede de equipamentos terrestres que ajudam na deteção sísmica.
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O Atlantic CAM, projeto que irá substituir o atual do sistema de cabos de comunicações submarinos que liga o continente aos Açores e à Madeira, terá integrado “um conjunto de sensores que detetam os movimentos em fundos oceânicos onde normalmente se origina os sismos e também os tsunamis”, afirmou o presidente do IPMA, José Guerreiro, ouvido esta quinta-feira à tarde, no Parlamento. As novas funcionalidades do “triângulo” de cabos foi uma das recomendações que o grupo de trabalho sobre prevenção e proteção sísmica, criado em 2019, entregou ao Governo e os equipamentos deverão estar a funcionar “nos finais de 2026 ou início de 2027”, avançou.
O responsável do IPMA vê nesta componente “smart” dos cabos de fibra óptica submarinos um complemento à clássica rede sismológica instalada pelo país. Prevê-se que a vida útil da infraestrutura atual (o Anel CAM), localizada na zona económica exclusiva portuguesa, terminará entre 2024 e 2025. O investimento para os novos cabos ronda os 156 milhões de euros, dos quais 15 milhões dizem respeito às novas funcionalidades, referiu.
Também presente na audição, Fernando Carrilho, especialista em sismos do IPMA acrescentou que a instalação dos sensores tornará o alerta precoce “mais viável” e com resultados positivos para a proteção e segurança do território nacional. Além disso, irão permitir recolher outras informações do fundo do mar, como a temperatura, o que será “que é muito importante para compreender como é que o aquecimento do oceano está a ocorrer” face às alterações climáticas, apontou o engenheiro geofísico.
José Guerreiro recomendou ainda que a rede nacional de acelerómetros seja alargada, em articulação com todos os municípios. Atualmente o continente tem instalados cerca de 45 destes equipamentos que permitem identificar a velocidade dos movimentos do solo, apontou. Segundo o presidente do IPMA, o alargamento a nível nacional não iria significar “um investimento muito caro”, uma vez que os aparelhos custam cerca de 1 500 euros cada, mas reconheceu que exigiria “um reforço de meios humanos”. As regiões de maior sismicidade no país são Lisboa e Vale do Tejo e o Algarve, relembrou.
Fernando Carrilho esclareceu que o sistema alerta precoce de sismos que existe consegue antecipar os fenómenos em 40 segundos. O geofísico defendeu que o país precisa de investir na tecnologia “cell broadcast” ao nível da comunicação à população, que permite a todos os telemóveis receber mensagens de alerta em tempo real antes de um sismo, tsunami e outros desastres naturais, como já estão a ser seguidas noutros países, nomeadamente no Japão.
Questionado sobre o investimento que seria necessário para Portugal implementar este sistema, Fernando Carrilho explicou que o custo não deveria ser elevado dado que seria adicionado à rede de telecomunicações do país, mas que talvez fosse “necessária alguma componente legislativa” para o efeito.
O responsável do IPMA considerou ainda útil ampliar as cartas de perigosidade para os incêndios florestais a nível municipal. Confrontado pelo deputado do Chega Bruno Nunes sobre a contestação dos municípios em torno das restrições à circulação de pessoas e instalação de urbanização que esses mapas poderiam vir a criar, José da Silva sublinhou que “a carta em si é neutra” pelo que irá depender da forma como é regulamentada pelo município.
Recorde-se que o Governo decidiu suspender a implementação destes mapas que identificam os locais de maior risco florestal até 2024, depois da medida ter estado envolta em polémicas. Enquanto a revisão da cartografia não estiver concluída, continuam em vigor os planos municipais de defesa da floresta que utilizam um mapa de risco de base concelhia.
Quanto à preocupação demonstrada pelos deputados quanto à ocorrência frequente de sismos de pequena magnitude em Portugal, Fernando Carrilho explicou que “a instrumentação sísmica melhorou muito nos últimos anos” pelo que é natural que, com “uma maior vigilância”, se detete uma maior atividade.