Num debate sobre 2030, os problemas atuais dos jovens e da economia não arredam pé
A fuga de talento jovem e qualificado e a preponderância da inteligência artificial marcaram o debate "Onde queremos estar em 2030?" da conferência do 137.º aniversário do "Jornal de Notícias", que se realizou esta segunda-feira à tarde, na Porto Business School.
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Uma diretora de uma startup, um líder estudantil, um diretor de inovação e uma humorista estão num debate. Do que podem falar sobre os desafios de 2030? Foi este o mote da conferência do 137.º aniversário do JN, realizada esta segunda-feira à tarde, na Porto Business School. Os temas da fuga de talentos, da relação entre as empresas e o Ensino Superior e a inteligência artificial estiveram em destaque, numa conversa moderada pela jornalista do JN Joana Almeida Silva.
Num painel diversificado e com olhos postos no futuro foi inevitável falar sobre os problemas atuais que atingem as empresas e a academia em Portugal. Débora Campos, fundadora e CEO da AgroGrIN Tech, uma startup focada na reutilização de resíduos de legumes e frutas na produção de novos produtos, salientou haver uma "crise enorme de talento" no território nacional. A empreendedora notou haver "falta de curiosidade e autonomia" nos jovens com quem lida no Ensino Superior, enquanto docente, e na empresa, enquanto orientadora de teses de mestrado.
Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), salientou que as "expectativas de vida" da geração atual de jovens são "diferentes" das anteriores e recusou as ideias generalistas sobre as vontades e as ambições de cada faixa etária. "É a primeira geração que poderá viver potencialmente pior do que as outras", salientou. O dirigente estudantil afirmou que há uma "dificuldade de emancipação" dos mais novos e que os "melhores alunos estão a trabalhar lá fora". "Precisamos de uma economia mais forte e de olhar para os problemas dos jovens de uma forma global", considerou.
Convencer de que o projeto é bom
Apesar das medidas dirigidas aos jovens nos últimos anos, como a devolução das propinas, o IRS Jovem e a isenção do IMT (Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis), Francisco Porto Fernandes defendeu que "não vão resolver os problemas" de uma geração inteira. Também António Relvas, diretor de inovação da Tekever, construtora de drones, realçou que as empresas portuguesas não conseguem competir com os salários da Alemanha e dos Países Baixos, restando tentar convencer os jovens que "o projeto português é bom" e atrativo.
A empresa portuguesa, com sede em Lisboa, tornou-se no mês passado num unicórnio, isto é, conseguiu uma valorização de mil milhões de dólares (mais de 875 mil milhões de euros). António Relvas disse notar que há jovens que começam a trabalhar na Tekever, mas que têm a ambição de emigrar nos próximos anos. "Percebemos que querem dar o salto para fora", referiu.
No debate moderado pela jornalista do JN Joana Almeida Silva, houve tempo para falar sobre os desafios que esperam encontrar em 2030, como a preponderância da inteligência artificial e das mais diversas tecnologias. A guionista e humorista Susana Romana afirmou ter testado a capacidade do ChatGPT, a ferramenta de inteligência artificial que simula conversas, e garantiu que há "subtilezas" que o instrumento não consegue produzir.
Optar pelo mais barato
A também radialista antevê que, no futuro, passem a existir "produtos premium", feitos por pessoas, e produtos mais baratos, feitos pelas máquinas. "A rádio conseguiu absorver o lado humano, mas a inteligência artificial na televisão assusta-me muito. Se há uma hipótese mais barata, os canais de televisão vão optar pelo mais barato", disse Susana Romana, deixando uma nota humorística, mas bem séria, para não se privatizar a RTP, o canal público de televisão.
Débora Campos referiu que a AgroGrIN Tech, empresa que fundou em 2019, está a passar pelas dores de crescimento de uma startup e espera que, em 2027, os processos alimentares possam ser digitalizados e otimizados. O objetivo é que o negócio de transformação de resíduos de legumes e frutas seja "escalável, agnóstico" e capaz de ser aplicado em qualquer país.
Na área da segurança e da defesa, António Relvas assumiu que será necessário prestar mais atenção à regulação da inteligência artificial, até porque é possível que uma máquina, basta que se queira, efetue um disparo em contexto de guerra, sem intervenção humana. Francisco Porto Fernandes sentencia que as universidades e os politécnicos têm de se adaptar aos novos tempos e "estar na linha da frente". "Vão-se adaptar a bem ou mal", conclui.