Manuel Heitor alerta que nova centralidade europeia na Defesa obriga a um maior investimento em inovação e investigação.
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A cumprirem-se dois anos sobre a invasão da Ucrânia e com uma nova administração nos EUA, a Europa enfrenta uma “nova era”. Tendo que reposicionar a sua competitividade, assente em mais investigação, em mais valor acrescentado e em mais investimento. Receita que se aplica ao Norte de Portugal. E que Manuel Heitor, antigo ministro da Ciência, desmonta, esta sexta-feira, numa conferência organização pela Universidade e Politécnico do Porto.
O ponto de partida é o relatório de avaliação intercalar do programa Horizonte Europa – “Align, Act, Accelerate – Research, Technology and Innovation to boost European Competitiveness” –, liderado pelo professor universitário português. Tendo como ponto assente que o orçamento do próximo Programa-Quadro (2028-2024) tem que duplicar para os 220 mil milhões. Com foco na Investigação & Desenvolvimento (I&D). Para potenciar valor acrescentado.
São três as mensagens que Manuel Heitor deixará, na manhã de hoje, na Biblioteca Almeida Garrett. A primeira, explica ao JN, decorre “da tendência de debate da política europeia para dar prioridade, na próxima década, à Defesa como principal motor da competitividade”. O que implica uma “mudança radical na estratégia europeia”, obrigando a um “Programa-Quadro de I&D muito mais forte e com um portefólio de incentivos”.
Na medida em que, prossegue, nos últimos 30 anos a Europa centrou a sua aposta e os seus fundos na indústria automóvel. Numa “armadilha da tecnologia média, que afeta o Norte, em particular”. Importando, agora, “criar mais valor, mais investimento das empresas em I&D e apostar na atração de pessoas”. Orientando a “estratégia para segmentos de maior valor acrescentado, nomeadamente a Defesa e o Espaço”.
Sendo fulcral, afirma o cientista, um “sistema de compras públicas na Europa, essencial para quebrar o ‘gap’ de inovação”. Bem como uma “estratégia e política de coesão diferentes para desenvolver cadeias de valor na Europa e também na região Norte para a indústria da defesa”.
Envolver os jovens
Sem descurar as novas gerações, que têm que ser envolvidas. E é esta a segunda mensagem, propondo Manuel Heitor um novo programa, o “Choose Europe”, para “atrair jovens investigadores e talentos”, e promover “processos de requalificação de competências”. Sobre a discussão da fuga de talentos, vinca que Portugal é uma exceção, com mais entradas do que saídas, se comparado com França, Itália, Espanha e Polónia.
E como “há vida para além da competitividade”, chegamos à última mensagem, dirigida à Saúde. Porque, adianta o antigo ministro da Ciência, o “contexto de envelhecimento da sociedade europeia exige um reforço na área de investigação e inovação biomédica e de políticas de apoio à saúde”. Uma “receita complexa”, mas vital para que a Europa volte a posicionar-se no topo.