Nunca houve tantos portugueses a procurarem ajuda médica para deixar de fumar. Em oito anos, (2010/2018) o número de primeiras consultas triplicou e cresceu o consumo de medicamentos para tentar acabar com o vício.
Corpo do artigo
Este domingo, assinala-se o Dia Nacional do Não Fumador. Os dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde (DGS) mostram que em 2010 foram efetuadas 4917 primeiras consultas de apoio intensivo à cessação tabágica; oito anos depois, este número subiu para 13 010 (subiu 164%).
O número total de consultas e o dos locais onde estas se realizam também registaram um crescimento. As consultas aumentaram de 19 620 para 44 138, uma subida de 124%. E os dados provisórios do primeiro semestre de 2019 apontam para uma estabilização da quantidade. Já os locais de consulta passaram de 181 em 2010 para 221 em 2018, revelam os números do relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT), divulgado este domingo.
Emília Nunes, responsável pelo PNPCT, contou ao JN que os estudos mais recentes revelam que "a proporção de pessoas com motivação para deixar de fumar aumentou". Mas a médica sublinha o reforço das equipas e dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) para responder a esse aumento de procura.
"Neste momento, conseguiu-se cobertura integral em todos os ACES. E vários já contam com consultas em mais do que um local", disse, sugerindo que os utentes procurem os cuidados de saúde primários.
Apesar de mais utentes nas consultas, na opinião do pneumologista Fernando Barata, ainda há um grande desconhecimento da sua existência, bem como de estarem isentas de taxa moderadora. "As pessoas que querem deixar de fumar devem recorrer à consulta. Uma das coisas que podemos fazer é divulgá-la o mais possível".
"Reduzir não chega"
De acordo com este especialista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, "11,7% de todas as mortes são atribuídas ao consumo do tabaco". No entanto, a redução do número de cigarros para metade "diminui o risco de cancro do pulmão em apenas 25%" e quem fumar entre "um a quatro cigarros por dia aumenta significativamente o risco de morte por doença cardiovascular".
"As pessoas têm é que deixar de fumar. É difícil, mas só deixando é que o risco começa claramente a diminuir e de forma mais pronunciada no tempo", apelou.
DGS forma professores
A par das consultas, também o consumo de medicamentos para ajudar a deixa de fumar tem vindo a crescer. Em 2018, foram colocadas nas farmácias 483 049 embalagens de bupropiom, vareniclina e nicotina, mais 9,1% do que em 2017.
Os produtos com nicotina são de venda livre, explicou Emília Nunes. Já o bupropiom é usado para o tratamento da depressão e apenas uma marca tem indicação para a cessação tabágica. Porém, nos casos em que os ex-fumadores sofrem de depressão, os médicos também acabam por prescrever esta substância que ajuda a deixar de fumar.
A preocupação com o tabaco junto dos jovens levou a DGS a participar num projeto liderado da Direção-Geral de Educação, no âmbito da capacitação de professores sobre as temáticas relacionadas com o tabaco. "Foi feita uma formação no Porto com 60 professores da região Norte". A ideia é fazer mais formações pelo país.
No ano passado, um inquérito realizado no Dia da Defesa Nacional revelou que 60,1% dos jovens de ambos os sexos já tinham consumido tabaco. Menos 10,9% do que em 2015.