A 4 de julho de 1937, o F. C. Porto foi campeão nacional, ao derrotar o Sporting Clube de Portugal por 3-2. Mas os festejos na cidade Invicta foram rapidamente substituídos por manifestações de repúdio por um crime, apresentado como "criminoso", contra Oliveira Salazar: um atentado à bomba, quando o presidente do Conselho se preparava para assistir à missa de domingo na casa de um amigo, em Lisboa.
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"Frustrou-se um monstruoso atentado dinamitista". Foi o título da primeira página na edição do dia seguinte do Jornal de Notícias, onde se dão todos os pormenores sobre "o criminoso atentado" contra um "bom católico", uma "personalidade eminente", "o grande professor de talento raro e privilegiado", quando pretendia assistir à missa, na casa do amigo Josué Trocado, na Avenida Barbosa de Bocage.
"Os criminosos colocaram na caixa do colector, situada na placa central da Avenida Barbosa de Bocage, a uma distância de 10 metros, pouco mais ou menos da porta do jardim por onde entrou o sr. dr. Oliveira Salazar, uma bomba de grande potência, que parece ter sido acionada eletronicamente por meio de um fio de contacto, com uma extensão de mais de 100 metros, que ligava a uma outra caixa de colector, que ficava na placa central da Avenida 5 de Outubro", relata o JN.
Contudo, "o terrível engenho deflagrou exatamente para o sentido contrário". "Por este motivo, felizmente, nem s. exª nem o sr. dr. Leal Marques (que acompanhava Oliveira Salazar), nem a família Trocado sofreram qualquer percalço, nem o palacete foi atingido", informa o JN.
Oliveira Salazar escapou, assim, incólume da violenta explosão, que fez, porém, avultados danos materiais na Avenida Barbosa de Bocage e nas artérias vizinhas, naquela que foi, se não a única, a mais grave tentativa de atentado que o ditador sofreu em toda a carreira.
Mas Salazar fez questão de mostrar que não se intimidou. Nas notícias do JN, menciona-se o facto de estar "sereno". "Terminada a missa, que decorreu num ambiente de profunda religiosidade, o sr. dr. Oliveira Salazar foi acompanhado até à porta pela senhora de Josué Trocado e seu marido. Nesse momento, a ilustre senhora pediu ao sr. presidente do Conselho para não sair", relata-se, garantindo-se que Salazar respondeu, com "superior calma e espírito tranquilo", que tinha que trabalhar.
A operação organizada por anarquistas e comunistas teve como resultado a glorificação do regime, com Salazar a aproveitar para passar a imagem de o homem providencial de que o país precisava.