Além de ter sido um avançado com a vertigem dos golos e um treinador com sede de títulos, Artur Jorge sempre se distinguiu por ser um homem de causas e de lutas nobres. A semente germinou em Coimbra, no auge da luta estudantil no final dos anos 60, quando era uma das estrelas da Académica e estava matriculado no curso de Filosofia. Foi aí que tomou a verdadeira consciência de um país mergulhado na escuridão de uma ditadura.
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"Nessa altura, não participei em grandes lutas, mas era alguém que sabia o que se passava e integrava um grupo de pessoas que fazia um esforço para mudar o país", diz, ao JN. No pico do combate estudantil há a célebre final da Taça de Portugal de 1969, entre o Benfica e a Académica (2-1), com os estudantes nas bancadas a insurgirem-se contra o regime e as agruras da guerra colonial.
Sem ironias do destino, Artur Jorge foi impedido de participar nesse jogo por estar a cumprir o serviço militar em Mafra. Foi assim que fechou um ciclo na Briosa e se transferiu para o Benfica. Foi já em Lisboa que viveu a "Revolução dos Cravos", o primeiro dia do resto de uma vida: "Fui apanhado como as outras pessoas. Não sabia o que estava a acontecer e só dias depois é que tivemos a consciência do que tinha significado tudo aquilo".
Nesse dia, também se deixou arrastar pelo impulso popular de quem invadiu as ruas contra a ditadura, movido pelos ventos da mudança. "Lembro-me que o olhar das pessoas era bom, olhava-se para o futuro com esperança". A esperança por uma vida melhor, mais justa e cheia de oportunidades. Foi à luz dessa esperança que Artur Jorge aproveitou a democracia para se dedicar a uma causa paralela ao futebol e assumir a presidência do Sindicato dos Jogadores, porque "o fim da ditadura mudou o futebol" como também alterou todos os setores da sociedade portuguesa. "Antes os jogadores tinham pequenas possibilidades e enormes dificuldades. O Sindicato fez campanhas, as coisas foram para a frente e os futebolistas deixaram de ter uma situação má", sublinha o treinador.
Mas 40 anos depois da "Revolução dos Cravos", o país está longe dos ideais de quem muito lutou pelo sonho da prosperidade: "Aquele dia tirou o país da desgraça, mas hoje estamos numa situação desgraçada".
Revolta das Caldas
Voltou a tranquilidade ao país, dizia o JN de há 40 anos, um dia depois da Revolta das Caldas. A mesma tranquilidade que terá faltado a Tibi na derrota do Porto em Alvalade.