Foram referência quando o turismo fazia da Invicta centro de vida e dinamizava a economia local. Mas com o desaparecimento dos visitantes estrangeiros, ditado pela pandemia, as "gift shops" passaram a ser raridade. As que restam lutam pela sobrevivência e esperam pacientemente por melhores dias.
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Clientes a entrar continuamente, um corrupio de gente, faturação em alta, trabalho sem mãos a medir. Tudo memórias de um tempo feliz em que as "gift shops" faziam as delícias de quem não queria sair do Porto sem uma recordação para casa. Um tempo que a pandemia varreu.
Basta percorrer as zonas da cidade que eram poiso habitual de milhares de turistas para perceber que muitas dessas lojas não sobreviveram. Espaços fechados são o pão nosso de cada dia como se vê em muitas portas dos estabelecimentos espalhados pela Baixa e pela Ribeira. Sem visitantes estrangeiros, foi-se o público-alvo e perdeu-se o sentido do negócio.
Mas há quem teime em lutar contra a inclemência dos dias. É o caso de Elvira Basílio, 60 anos, desde há nove proprietária da Portosigns, na Rua do Infante D. Henrique. "Tem sido um período horrível, não se consegue realizar dinheiro". É assim que resume este longo ano de pesadelo, enquanto afiança que "a faturação teve quebras de 95%" e diz que "não dá para sequer sustentar as despesas correntes". Sem turistas, praticamente ninguém entra na loja.
Compravam tudo o que é tipicamente portuense e português. Agora há dias em que se entrarem aqui duas pessoas é muito
"Compravam tudo o que é tipicamente portuense e português, uma memória que os fizesse lembrar para sempre as férias aqui passadas. Tinha sempre casa cheia", recorda. E agora? "Há dias em que se entrarem aqui duas pessoas é muito", lamenta, enquanto olha os longos corredores onde prateleiras pejadas de produtos tradicionais continuam à espera. "Com a vacinação em massa as coisas irão melhorar e lentamente voltaremos ao que éramos antes. É aguardar por melhores dias", augura.
Sem turistas, as chamadas "gift shops" ficaram sem o grosso da clientela e da contabilidade. Foram obrigadas a inventar paciência e resiliência para evitar o desespero de tomar a decisão mais temida: o fecho.
Com porta aberta na Rua das Flores e montra traseira virada para a Rua de Mouzinho da Silveira, a Porto Souvenir tenta fugir ao desespero. Sentada atrás do balcão, Kumude Kheraj, 65 anos, está rodeada de ímanes, porta-chaves, isqueiros, carteiras, galos de Barcelos, enfim tudo o que leve o nome e a bandeira de Portugal como adereço decorativo. "Perdemos quase todos os clientes. Ninguém nos procura, os portugueses não entram aqui", lamenta. "É esgotante passarem semanas e semanas sem fazermos quase nada, uma luta", considera.
Desde que a pandemia começou só abro durante o período da tarde e mais para manutenção do que outra coisa. E para não passar o tempo todo em casa
Não é cenário único na pedonal Rua das Flores, onde muitos estabelecimentos não aguentaram o ritmo penoso do negócio e acabaram por encerrar. Alguns metros à frente, a Ilustração Portuguesa, que tem também representação junto à Estação de São Bento, adaptou-se aos novos tempos da maneira que pôde e conseguiu. "Analisámos os melhores horários, adaptámo-nos à clientela nacional e apostámos na venda online. Foi a melhor forma que encontrámos para seguirmos em frente", explica Joana Gonçalves, 39 anos.
O mesmo tem tentado Anabela Silva, proprietária da Douro Sports, na Rua da Lada, uma das mais antigas "gift shops" do Porto, 28 anos de atividade contínua.
"Desde que a pandemia começou só abro durante o período da tarde e mais para manutenção do que outra coisa. E para não passar o tempo todo em casa", diz Anabela, cansada do vazio dos dias que têm preenchido a sua loja e de todas do género que um dia inundaram o Porto e hoje são quase exemplares raros numa cidade que, como muitas, viu o turismo desaparecer