O consórcio TEXP@CT para digitalização do setor envolve 40 entidades. O centro de investigação em Famalicão, o CeNTI, está envolvido em 12 soluções tecnológicas, onde trabalham 50 pessoas.
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Um robe com aquecimento inteligente, equipamentos de proteção individual que medem a temperatura corporal dos trabalhadores e um computador onde a inteligência artificial permite detetar rasgões nos tecidos. Em poucos anos, estas soluções tecnológicas poderão estar ao dispor do público e das empresas. Pelo menos é esta a ambição dos investigadores do Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (CeNTI), em Famalicão, que estão a desenvolver 12 projetos do TEXP@CT, o pacto de inovação para a digitalização do setor têxtil e do vestuário.
Formados nos mais diversos tipos de engenharia – materiais, química, eletrotécnica, software – e também em design, 50 investigadores do CeNTI trabalham atualmente em soluções que vão permitir a empresas da área têxtil e do vestuário “caminhar para a transição digital e a transição verde”, explica a gestora do projeto (“project manager officer”) Juliana Soares. No total, o consórcio do TEXP@CT envolve 40 entidades e tem um investimento global de 46 milhões de euros, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) da Comissão Europeia.
Numa sala de laboratório, foi demonstrado como um robe cor-de-rosa e um cobertor cinzento podem ter um sistema que permite aquecer ambos os materiais e pará-lo automaticamente por segurança. Um equipamento será utilizado para monitorizar o calor emanado dos têxteis.
Etiquetas para rastrear produtos
Numa outra sala, Adriana Cunha mostrou, num computador, a inteligência artificial a detetar rasgões e imperfeições nos tecidos. No contexto real, tal inovação avisará os responsáveis das empresas quando há erros na produção e interrompe o processo de fabrico, evitando custos desnecessários, tanto monetários como ecológicos, e a perda de material.
A dois anos da entrada em vigor do passaporte digital do produto, - um instrumento para conhecer o ciclo de vida de uma peça de roupa - os investigadores do CeNTI estão a trabalhar em etiquetas para rastrear produtos. Imaginemos uma fábrica têxtil, onde os trabalhadores precisam de saber onde está um determinado tecido. Através de etiquetas com “mini-computadores” será possível descobrir em que corredor está uma tonalidade de branco entre “centenas de produtos com cores similares”, diz Adriana Cunha. “É importante saber que, desta forma, não se perde tempo e melhora-se a eficiência operacional”, acrescenta.
Nem todas as soluções tecnológicas estão na mesma fase de desenvolvimento, até porque há percalços no caminho: tecnologias que têm de ser melhoradas ou adaptadas. Os equipamentos de proteção individual para trabalhadores dos setores das telecomunicações e da energia é um dos projetos mais adiantados, refere Juliana Soares. Os tecidos vão ter um sistema para medir a taxa de esforço cardiorrespiratória e a temperatura interna dos trabalhadores.
Com uma aplicação móvel, o chefe de equipa saberá quando está iminente uma situação de perigo. “Já fizemos os primeiros testes de campo com pessoas reais a subir aos postes [de eletricidade]. Temos uma segunda ida agendada. Portanto, há matéria para avançarmos para o processo de certificação”, aponta a gestora de projeto.
Gerar vendas no pós-projeto
São várias as empresas associadas às soluções tecnológicas, que estão a ser desenvolvidas pelo centro de investigação da Famalicão, como a Têxteis Penedo, a Têxteis J.F.Almeida, a Impetus e a Riopele. As ideias para as inovações “vêm das necessidades que as empresas detetam ou de novos produtos que querem ter no seu portfólio”, diz Juliana Soares. “O objetivo de todos os produtos é chegar à comercialização. O CeNTI vai ficar pelo início da certificação e depois as empresas irão continuar com esse processo e gerar vendas no pós-projeto”, acrescenta.
Numa altura em que são noticiadas dificuldades das empresas têxteis e o consequente fecho de fábricas, Adriana Cunha sublinha haver um “claro atraso” do setor face a outro tipo de indústrias. “O custo inicial de implementação [das tecnologias e dos equipamentos] é um bocadinho grande, mas as empresas estão hoje mais recetivas e percebem a necessidade do investimento”, conclui.
Consórcio
O consórcio do TEXP@CT envolve 40 entidades e terá, no total, 26 soluções tecnológicas. O objetivo é tornar o setor têxtil e do vestuário mais digital e sustentável. O CeNTI está envolvido em 12 destas soluções.
Amostras
Em parceria com a Borgstena, empresa de fabricação de têxteis para a indústria automóvel, o CeNTI está a desenvolver um sistema digital de amostras têxteis para carros, onde os clientes podem ver o produto final ainda antes de ser produzido. “A demonstração virtual e realista da aplicação do produto, em tempo real, vai reduzir o número de amostras têxteis produzidas”, salienta Adriana Cunha.