Ex-presidente angolano é acusado de distribuir riqueza e facilitar negócios a nove filhos durante décadas. Diamantes, petróleo, energia e comunicações são alguns setores onde foi feita fortuna.
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Há exatamente uma semana, a investigação jornalística Luanda Leaks revelava o que já pairava no ar: Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, terá beneficiado, ao longo de décadas, de favorecimento político e económico em negócios espalhados um pouco por todo o Mundo. O alegado desvio de 115 milhões de dólares da petrolífera estatal Sonangol para uma conta da própria no Dubai foi uma das principais descobertas do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ).
Um caso que despertou o interesse da Justiça e que colocou na mira a família do ex-presidente de Angola. Na sua presidência, entre 1979 e 2017, foram vários os membros da família (mulheres, filhos, cunhados e sobrinhos) que beneficiaram da posição de José Eduardo dos Santos. Dos dez filhos que teve com seis mulheres, o líder histórico do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) distribuiu riqueza por quase todos.
A mais velha dos irmãos, Isabel dos Santos, fruto da relação com a russa Tatiana Kukanova, começou o seu império quando o pai lhe deu a gestão da empresa de resíduos de Luanda, a Urbana 2000. A partir daí, a "princesa" de Angola somou vitórias nos negócios dentro e fora de portas, alguns deles em Portugal.
A empresária chegou à riqueza dos diamantes, através da Trans Africa Investment Services (TAIS) em 1997, e ao petróleo, primeiro com uma participação indireta na portuguesa Galp e, já quase no fim do reinado do pai, com a entrada para presidente da Sonangol. Em Angola, atualmente, com tudo arrestado pela Justiça, as suas participações na empresa de telecomunicações Unitel, na Banca (BIC e BFA), nos cimentos e nas bebidas estão a ser investigadas.
O putativo sucessor
Já o segundo filho mais velho, José Filomeno ("Zenú"), putativo sucessor, fundou o primeiro banco de investimentos de Angola, o Banco Kwanza Invest, em 2008. Quatro anos depois, em 2012, presidia ao Fundo Soberano de Angola que, através das receitas de petróleo, deveria beneficiar o desenvolvimento económico e social do país. Foi a sua desgraça. É acusado de desviar 500 milhões de dólares para negócios pouco claros.
Esteve em prisão preventiva até há pouco tempo. Welwitschea ("Tchizé") e Paulino dos Santos ("Coréon Dú"), ambos com participações no Banco Prestígio, encerram o leque dos quatro filhos poderosos.
Porém, quase todos os descendentes de José Eduardo dos Santos tiveram ou têm cargos em bancos. Eduane, Eduardo, Houston e Joseana (os mais novos) tornaram-se "donos" de uma parte do Banco Postal de Angola. Apenas um, Josias, permanece uma incógnita. Pouco se sabe da relação entre pai e filho ou do relacionamento que o ex-presidente teve com a mãe de Josias, "Dadinha", que será uma antiga funcionária da Sonangol. O alegado favorecimento de José Eduardo dos Santos à família esteve sempre presente, mas só depois de este sair da presidência é que tanto João Lourenço como a Justiça angolana estão no encalce da incalculável fortuna detida pelo clã Dos Santos. O chefe continua em Barcelona em tratamentos.
OS QUATRO FILHOS PODEROSOS
A filha primogénita de José Eduardo dos Santos é a mulher mais rica de África. Tornou-se a imagem do poderio da família. Isabel dos Santos é uma das principais visadas na investigação Luanda Leaks, acusada de desvio de dinheiro público da Sonangol para uma conta no Dubai, com o marido, Sindika Dokolo. Tem participações em várias empresas portuguesas, das quais anunciou a sua retirada, como a Efacec e o EuroBic. Está ainda na Nos e na Galp. Foi constituída arguida em Angola.
O segundo filho do ex-presidente de Angola era tido como o sucessor natural do pai à frente do país. Isto porque, apesar de Isabel dos Santos ser a favorita do pai, não seria aceite por alguns setores da sociedade angolana por ser mulher. "Zenú" fundou o Banco Kwanza Invest em 2008 e, em 2012, foi nomeado pelo pai para o Fundo Soberano de Angola. Foi exonerado do cargo pelo presidente João Lourenço, após ser acusado pelo Ministério Público angolano de vários crimes. Esteve em prisão preventiva.
Será provavelmente a filha que tem mais ligações ao mundo da política por ser deputada do MPLA. Os seus interesses estiveram sempre ligados à Comunicação Social. Filha do relacionamento com Maria Luísa Perdigão Abrantes, Tchizé licenciou-se em Comunicação Social em Londres. Fez produção de conteúdos no canal brasileiro TV Record, fundou a revista "Caras" em Angola e lançou o primeiro canal internacional do país, a TPA Internacional. Tornou-se uma celebridade no país à boleia das redes sociais.
Paulino ("Coréon Dú"), 35 anos, produtor musical
Paulino dos Santos, mais conhecido por "Coréon Dú", foi o único que enveredou por uma carreira artística. Contratou produtoras musicais famosas para produzir os seus álbuns de música como "The Coréon Experiment" e "Binario". Foi ainda produtor da novela "Windeck" transmitida na RTP. Assumiu a sua homossexualidade em julho de 2019, o que não terá caído bem nos setores mais conservadores de Angola e próximos do chefe do clã. Tal como a irmã Tchizé, teve uma participação no Banco Prestígio.
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