O lema “Deus, Pátria e Família” não faz de Ventura um “salazarista encapotado”
Entrevista com Riccardo Marchi, investigador no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE e especializado no pensamento, partidos e movimentos da nova direita radical.
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Num artigo sobre “A direita e a extrema-direita na Democracia Portuguesa”, incluído no livro “O essencial da política portuguesa”, afirma que a direita que surgiu imediatamente a seguir ao 25 de Abril foi moldada e condicionada pelo legado do Estado Novo, por um lado, e pelas condições do período revolucionário, por outro. O que é que isto quer dizer?
Ainda antes disso, deixe-me primeiro explicar um outro conceito. Na ciência política, distinguimos entre a velha direita radical e a nova direita radical. Os partidos da velha direita radical eram os que se reconheciam oficialmente no autoritarismo da primeira metade do século XX, no fascismo, no nacional-socialismo, no franquismo, no salazarismo. Reconheciam naqueles regimes o legado histórico e ideológico que os movia. O pai de todos esses partidos clássicos foi o Movimento Social Italiano, fundado em 1946 pelos fascistas derrotados em 1945, e que permaneceu sempre do parlamento italiano nas décadas seguintes, reivindicando o passado. Não renegavam o fascismo, mas não pretendiam restaurar o regime fascista. Há, depois, os partidos da nova direita radical, um fenómeno do final do século XX e, sobretudo, do século XXI. Estes não querem nenhuma ponte com o passado autoritário. Aliás, em muitos casos até se definem como antifascistas. Gert Wilders, na Holanda, não tem nenhum problema em definir-se como antifascista. Marine Le Pen, por exemplo, diz que, se há um perigo fascista na França, é o do fascismo islâmico. E do ponto de vista eleitoral, nos últimos 20 anos, houve um crescimento exponencial, a nível europeu, desta direita radical, que triplicou a sua média de votos, Já os partidos da velha direita radical permanecem marginais.