O Livre quer Portugal e a Europa sobre carris. E Paupério foi a Guifões mostrá-lo
No quinto dia da campanha das Europeias, o cabeça de lista do Livre visitou, em Guifões, o centro da CP que reabilita comboios e metros, depois de dedicar a manhã à proteção da biodiversidade, em Braga. Nas duas ocasiões, voltou a criticar o pacto para as migrações.
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Francisco Paupério está sentado num passeio junto ao portão do parque de jogos do Gatões Futebol Clube, em Guifões, Matosinhos. São duas da tarde de sexta-feira, o sol chegou em força à campanha eleitoral e o cabeça de lista do Livre às Europeias aguarda a chegada de todos os jornalistas ao local, para começar a visita às oficinas da CP. Não há grandes comitivas atrás dele, nem autocarros gigantes, nem bandeiras, nem música, nem fogos de artifício a anunciar a sua presença.
Bem-disposto e muito acessível, Paupério faz-se acompanhar apenas por Filipe Honório, membro do Grupo de Contacto do Livre (direção) e assessor de imprensa, e por dois apoiantes do partido, que usam ao peito uma papoila vermelha cada um. É esse o símbolo do Livre, a esquerda verde europeísta que tem como bandeiras na Europa a dignificação da entrada de migrantes e o combate às alterações climáticas. Ao quinto dia da campanha, o reforço da ferrovia junta-se às prioridades, a partir das oficinas da CP na vila de Guifões.
É aqui, num enorme complexo construído em 1989, que se fazem, dia e noite, os trabalhos de manutenção das carruagens dos comboios e composições do metro, desde operações simples, como mudança de lâmpadas, a complexas, como a recuperação total de carroçaria. “Portugal vai a Espanha comprar sucata” - explica o diretor de Manutenção e Engenharia, Manuel António Pereira - e, em poucos meses, as velhinhas carruagens da Renfe, em fila numa cabine a aguardar restauro, ficam como novas, embora não o sejam. Uma delas, já equipada com ligações USB e vários espaços para bicicletas no interior muito colorido, onde dois operários são surpreendidos pela chegada de Paupério, há de circular em breve pela Linha do Minho. A reabilitação de comboios da rede espanhola ronda os 300 mil euros. Novos custariam mais de 1 milhão.
Décadas de atraso
A circulação dos metros e comboios é cada vez maior, o que aumenta também a necessidade e a frequência das manutenções. Há, por isso, cada vez mais trabalho em Guifões, mas não é fácil reforçar a equipa (que engloba, no total, 200 funcionários), tanto por falta de condições salariais atrativas como por dificuldade em encontrar mão de obra especializada. “Desistimos do ensino técnico em Portugal e estamos a colher esses frutos. É difícil captar e reter trabalhadores”, resume Francisco Paupério, sublinhando e necessidade de valorizar salários para reforçar a ferrovia.
“É o futuro. É o que devia ter sido feito nos anos 80 e 90. Devíamos ter investido na ferrovia, não só pela transição energética, mas também por causa da coesão territorial. Precisamos desesperadamente de ligar cidades do interior ao litoral”, defende o cabeça de lista do Livre, que propõe que as grandes cidades europeias estejam, até 2035, ligadas por alta velocidade, tanto por via de fundos europeus como nacionais. “Podemos ser vocais na defesa da ferrovia no Parlamento Europeu e tentar que os fundos sejam aumentados. Mas essa também tem de ser uma opção estratégica do Governo”, diz ao JN, lamentando que o Plano de Recuperação e Resiliência pouco tenha alocado para a extensão dos troços, a compra de comboios e a valorização de trabalhadores.
Segurança alimentar
Com a mesma simplicidade, o número um do Livre às Europeias e o seu braço-direito na campanha tinham estado, de manhã, no Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Braga. O centro, uma das dez maiores infraestruturas de conservação de recursos genéticos do mundo, guarda mais de 47 mil amostras de cerca de 200 espécies, entre sementes, cereais, plantas e culturas hortícolas (incluindo uma coleção de 300 variedades de alho). Serviu de pano de fundo para Paupério, formado em biologia, defender mais investimento na ciência e na proteção da biodiversidade.
“Infelizmente, os recursos europeus não vão para a conservação dos recursos genéticos, que podem fazer face às alterações climáticas e ajudar os agricultores a terem melhores colheitas”, disse o cabeça de lista, avisando que “a segurança alimentar está em perigo” e que, também por isso, é “tão importante conservar estes locais”.
Pacto migratório: "Queremos que haja coerência"
Nas duas ações de campanha, quando questionado acerca da situação na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), onde se acumulam processos de imigração por regularizar e onde a falta de recursos se deve agravar com os pedidos de saída de cerca de 100 funcionários, noticiados hoje pelo "Expresso", Francisco Paupério mostrou-se preocupado e apelou à ação governativa. "Pedimos ao Governo, que fez um plano de emergência para a saúde, que faça também um plano de emergência para a AIMA. Que contrate funcionários para trabalhar na AIMA, para solucionar rapidamente este caso", defendeu o candidato, assertivo na posição do Livre em relação ao pacto de migração e asilo.
Apontando o dedo aos vários partidos que, apesar de terem levantado várias críticas nos últimos dias durante os debates televisivos, "votaram todos a favor" do pacto, Paupério lembrou que o Livre sempre se opôs. "Queremos que haja coerência e não haja apenas intenções e promessas eleitorais, e que depois cheguem ao Parlamento Europeu e votem contra tudo aquilo que disseram nesta campanha eleitoral", apelou, sublinhando a convergência entre o Livre e os Verdes Europeus.
"Os partidos mais à direita vão dar-se muito mal no Parlamento Europeu, visto que são muito contrários às posições dos grupos políticos em que se encontram", apontou ainda.