"O melhor sítio para comprar peixe fresco" é na Quarteira
É perto do meio-dia, mas a azáfama no Mercado do Peixe de Quarteira, no município de Loulé, é ainda grande. Muitos veraneantes preferem comprar o peixe fresco depois de uma manhã na praia, como é o caso de Adelino Xanica, 67 anos, residente em Sesimbra. De calção de banho vestido e toalha ao ombro, carrega um saco com corvina. "Venho aqui todos os dias, mais ou menos por esta hora", conta. Faz férias em Quarteira há cerca de 20 anos e assegura que, a seguir a Sesimbra, "é aqui que se compra o peixe mais fresquinho do país".
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Os comerciantes do Mercado do Peixe são unânimes em afirmar que "95% dos clientes" são portugueses. "Os estrangeiros, normalmente, comem no restaurante", lamenta Vítor Serôdia, nascido nesta cidade há 61 anos.
Antes de vender peixe, foi pescador, como a maioria dos homens que aqui trabalha. Andou na faina por Matosinhos, Peniche e na Figueira da Foz, onde se encontrava quando, no dia 17 de Maio de 1967, a LUAR assaltou a dependência do Banco de Portugal. "Estávamos a descansar no barco, que estava atracado mesmo junto ao banco, e acordámos com o tiroteio", recorda. Vítor assegura que foi o único grande susto que apanhou nesses tempos de pescador.
Armindo André, 82 anos, também apanhou alguns sustos nos cerca de 30 anos que andou na pesca. Começou aos 12 anos, com o pai e os irmãos. Com 22 anos, partiu para França e nunca mais parou. Com os pesqueiros "O Algarve" e "Mariana" andou também pela Alemanha, Argélia, Marrocos e Moçambique. Voltou há cerca de 40 anos, depois de vender os dois barcos por "cinco contos", e dedicou-se à venda do peixe.
"No início, o peixe era vendido mesma na praia. Os barcos chegavam, descarregavam e o peixe era vendido aos montinhos, não havia cá balanças", conta. Há cerca de 30 anos foi inaugurado o actual Mercado do Peixe e desde então é aqui que vende.
Carlos Sousa, 49 anos, é das poucas excepções. Também nascido em Quarteira, começou a vender peixe há apenas 17 anos. Antes, trabalhou num hotel, que fechou portas. "Tive que meter mãos ao que apareceu, pois trabalho é algo que não abunda por aqui", diz. Quando começou, confessa que não sabia distinguir os vários tipos de peixe, nem a melhor maneira de os amanhar, mas com o tempo aprendeu e, hoje, garante, não quer "outra coisa".
Vendedores e compradores queixam-se que o espaço não tem condições para funcionar. "De manhã, é uma confusão. Há muita gente a comprar e não se consegue circular porque o espaço entre as bancas é muito estreito", queixas-se Fátima Carvalho, 49 anos, oriunda de Coimbra. Conhece Quarteira há mais de 20 anos e garante que este "é o melhor sítio para comprar peixe fresco". "Só é pena as instalações não corresponderem à qualidade do peixe", lamenta.
Circular entre as cerca de 30 bancas é, de facto, um dos maiores desafios de quem aqui trabalha e para quem aqui vem comprar peixe. Os corredores de circulação são estreitos e nas horas de maior afluência de clientes é quase impossível circular com as caixas de peixe, para reabastecer as bancas, ou comprar o que quer que seja. Sair do Mercado do Peixe com umas quantas escamas na roupa ou com uns salpicos de água é tarefa quase impossível.