Incerteza sobre a evolução da pandemia, medo e restrições mudam planos de regresso. Emigrantes em França optam pelo carro para percorrer a distância e matar saudades.
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O "meio bacalhau seco" que Gonçalo Cardoso, 38 anos, conseguiu este ano vai ajudar a confortar o Natal do português no Reino Unido. É um dos muitos emigrantes que cancelaram os planos de vir passar as festas à terra de origem, devido aos constrangimentos causados pela covid-19. Os que ainda vêm, rodeiam-se de cuidados (ler reportagem ao lado).
O técnico de equipamento fotográfico, natural de Coimbra, emigrou em 2019. Apenas nesse ano conseguiu passar o Natal em Portugal. Em 2020, ficou pelo Reino Unido e nem bacalhau encontrou. Este ano, também não viaja, mas já tem na despensa "meio bacalhau seco" para dar sabor à festa.
Quando aqui esteve, em maio, "Portugal foi colocado na lista vermelha do Reino Unido" e, no regresso, Gonçalo teve de ficar "uma semana em quarentena". "Foi muito dinheiro, muita burocracia e muito tempo em que não podia trabalhar". Este ano, para evitar imprevistos, sobretudo numa altura em que está a mudar de emprego, decidiu "não correr riscos".
António Cunha, conselheiro da comunidade lusa no Reino Unido, explicou ao JN que "há bastantes emigrantes que em anos anteriores iam passar o Natal a Portugal e, com estes problemas, cancelaram. Nem juntarem-se aqui está a ser possível como noutras alturas".
Em causa está tanto o "medo da covid como as restrições de viagens", que "põem a comunidade a pensar duas vezes". "No Reino Unido, estão famílias completas. Se a um membro acontece alguma coisa, toda a família é afetada".
Portugal não está na lista vermelha, mas há "muita incerteza" em relação ao futuro e pode voltar a ficar. "Ninguém sabe e a incerteza enorme faz com que as pessoas nem vão", diz Cunha.
Paulo Marques, conselheiro em Paris, conta que em França "há bastantes portugueses que ainda tencionam ir a Portugal". Quase dois anos de pandemia "fazem com que haja muitas saudades e as pessoas queiram ver os familiares em Portugal".
"Verificamos que há uma parte notável de portugueses que vão de automóvel. As passagens aéreas estão muito mais caras que o habitual e há menos voos". Na última semana, acrescenta Paulo Marques, "vimos vários portugueses a fazer revisão aos automóveis para poderem percorrer os 1500 a 2000 quilómetros" de distância.
Na Bélgica, o conselheiro Pedro Rupio diz que "muitos [emigrantes] decidiram ficar". Para a decisão terão pesado, entre outras coisas, as restrições. "Portugal exige teste mesmo a quem tem certificado de vacinação e isso poderá ser um obstáculo para muita gente".
Em Bruxelas, conta, "houve um pico de contaminações e fizeram-se muitos testes. Quem quis viajar para Portugal na última semana teve muitas dificuldades em conseguir testes a tempo. Muitos desistiram".
Partiram mais cedo
Na África do Sul, apesar da distância, havia uma forte tradição de vir a Portugal (sobretudo à Madeira, de onde muitos são oriundos), pois o Natal coincide com o verão em África e os emigrantes conseguem tirar períodos de férias maiores.
Vasco Abreu, conselheiro em Joanesburgo e Pretória, assegura que, com a pandemia, este ano "são muitos menos". A África do Sul é considerada país de risco, pelo que é necessário fazer quarentena. Também "não há voos diretos, é preciso fazer escala na Europa", conta.
"Quem tinha intenção de passar o Natal em Portugal já partiu. Fizeram-no em finais de outubro ou inícios de novembro, porque decidiram ir por um período mais longo", acrescenta Lígia Fernandes, conselheira na zona do Cabo.
Daniel Loureiro, conselheiro no Canadá, revela que também ali a pandemia levou a "alterações dos planos" de férias.
Regras para quem chega
Restrições de avião
Para viajar para Portugal, é necessário apresentar um teste negativo. A obrigatoriedade estende-se mesmo a quem tem o Certificado Digital de Vacinação, qualquer que seja o ponto de origem ou nacionalidade.
Chegar por terra
Conforme o grau de risco do país de origem, os viajantes podem ter de se fazer acompanhar de Certificado Digital Covid ou de teste PCR (até 72 horas antes) ou antigénio (até 48 horas antes) negativo.
Mais fiscalização
No período do Natal está previsto um reforço da fiscalização nos aeroportos e nas fronteiras terrestres, com as autoridades a controlarem se quem chega e parte está a cumprir as medidas contra a covid-19.
Manter cuidados
Os cidadãos que chegam ao país devem continuar a usar máscara em espaços fechados, desinfetar as mãos com frequência e manter o distanciamento social.