Apesar da forte subida de preços, sentida sobretudo em Lisboa, há cada vez mais quem aposte no setor imobiliário em Portugal. Especialmente quem vem de fora e busca um novo destino para viver ou fazer negócio. Franceses, norte-americanos e italianos dominam lista de interessados nas nossas cidades.
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Portugal, em 2018, foi o destino imobiliário mais procurado para estrangeiros a nível mundial. E a tendência é para continuar durante o corrente ano. A conclusão é de um estudo da ListGlobally, a maior rede internacional de portais imobiliários, a que o "Jornal de Notícias" teve acesso.
Segundo os dados analisados a nível mundial pela ListGlobally, 20% dos compradores internacionais escolheram Portugal como possível futura residência durante o ano passado. E houve três grupos que se destacaram de entre os potenciais compradores: França (34%), EUA (5,68%), e Itália (6,04%). Praticamente metade do total de interessados reunidos em três nacionalidades apenas.
De entre os mais ativos no mercado português, os norte-americanos foram os que apostaram em imóveis mais caros. Analisados os números, a ListGlobally concluiu que o preço médio das casas procuradas por quem veio dos EUA cifrou-se nos 319,898 mil euros, valor substancialmente superior àquele em que estacionaram franceses (218,345 mil euros) e italianos (158,424 mil euros). Estes últimos foram os únicos que aumentaram o orçamento na hora de fazer negócio em comparação com anos anteriores (21%).
Seduzidos pela conjuntura política e económica
No número total de envolvidos, a intenção de compra teve como média 318,792 mil euros, refere o mesmo relatório. "Apesar do aumento dos preços, os compradores estrangeiros continuaram à procura de bons negócios. Foram, e continuam a ser, cada vez mais seduzidos pela conjuntura política e económica, associada à boa qualidade de vida", conclui o relatório da ListGlobally.
Neste capítulo particular, é de destacar a acentuada diferença de preços entre Lisboa e o resto do país. Comprar casa na capital implicou pagar uma média de 1,148 milhões de euros por cada negócio conseguido. "Foi a cidade em que o aumento do preço no momento da procura de casa foi mais significativo", sublinha a ListGlobally, lembrando que em 2017, por exemplo, uma habitação em Lisboa tinha como valor médio 429,1 mil euros, o que significa uma explosão de valores entre um ano e outro na ordem dos... 168%.
ortugal é um país muito interessante porque, apesar da subida generalizada do preço por metro quadrado
O Porto também sofreu com o fenómeno, embora de forma menos acentuada, com a subida a não exceder os 23% (de 224,1 mil euros para 275 mil euros por imóvel). "Portugal é um país muito interessante porque, apesar da subida generalizada do preço por metro quadrado, ainda é um dos mais baratos para comprar casa na Europa", explica Théo Plantier, responsável da ListGlobally para Portugal.
A região do Algarve foi a que registou movimentação mais acelerada no que à procura de casa por internacionais diz respeito. Desde sempre bafejado por ondas de turistas provenientes das mais diversas origens, o Algarve deixou de ser paragem definitiva apenas de reformados europeus de países ricos, como a Grã-Bretanha e a Alemanha, e passou a ser procurado por cidadãos de diferentes paragens e gerações.
Foi em terras algarvias que o casal francês Coralie e Jean Luc, 40 e 62 anos, respetivamente, assentou praça definitiva em busca de nova vida. Instalaram-se em Porches, concelho de Lagoa, onde apostaram num negócio de turismo rural equestre.
Quando chegámos cá praticamente nem ouvíamos falar francês e hoje lá se vai começando a ouvir com mais frequência
"Queríamos sair de França e escolhemos Portugal por causa do clima e da natureza, claro. Além do grande potencial que possui. É um país extraordinário", justifica Coralie. Aos poucos, ela e o marido aperceberam-se de que a massa de compatriotas no Algarve foi crescendo gradualmente, fenómeno que atribuem "às características tranquilas do país", e do próprio custo de vida, "ainda assim mais barato" do que em França.
"É curioso que quando chegámos cá praticamente nem ouvíamos falar francês e hoje lá se vai começando a ouvir com mais frequência", constata Coralie.
Além do Algarve, a ListGlobally identificou Lisboa e Setúbal como as zonas do país onde se verificou maior interesse imobiliário de estrangeiros, respetivamente com 11,22% e 8,16% do total de compradores. O Porto surge em quarto lugar da lista, com 5,10%, o mesmo valor da região de Leiria.
Na Maia, arredores do Porto, o italiano Nicola Buonamico encontrou casa e destino para gozar a reforma. Natural de Bari, este antigo engenheiro de 68 anos mudou-se para Portugal com a companheira, a brasileira Márcia.
Em termos fiscais, é muito compensador, especialmente para quem é pensionista
"Ainda pensámos comprar casa no centro do Porto, mas os preços lá são muito elevados. De qualquer forma, estamos a 20 minutos do centro da cidade, a qualidade de vida é ótima, temos todos os serviços disponíveis, há ar puro, a segurança é máxima e as pessoas são muito simpáticas", explica Nicola.
Há outro fator que tem atraído cada vez mais italianos a Portugal: "Em termos fiscais, é muito compensador, especialmente para quem é pensionista".
Se 2018 foi o ano em que as atenções internacionais se viraram para o imobiliário português, a perspetiva é de que o fenómeno se repita no decorrer de 2019. A ListGlobally estima que a tendência de procura se mantenha no mesmo registo. Porque não é provável que os preços sofram alterações significativas e pela "urgência dos britânicos em comprar propriedade antes do Brexit"