Ricardo Oliveira, 31 anos, de Vila do Conde, teve covid-19, esteve em coma e tem sequelas graves. Era gerente de um restaurante que não resistiu.
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"Apanhei o vírus, saí do hospital, mas o vírus não acabou aqui". Ricardo, 31 anos, condensa nesta frase o furacão que lhe virou os dias ao contrário, a partir do início de novembro. A covid, que quase lhe tirou a vida, não lhe roubou apenas a saúde, a paz e a alegria: levou-lhe também o emprego e a estabilidade financeira. Hoje, conta com a solidariedade de amigos para enfrentar as dificuldades económicas.
Soube no Dia de Todos os Santos que estava infetado. A partir daí, tudo se precipitou. Foi internado no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e depressa se transformou num doente crítico. Teve de ser transferido para o S. João, no Porto, para ser ligado à ECMO, máquina que substitui a função dos pulmões e que ajudou a salvar-lhe a vida, oxigenando o sangue fora do corpo ao longo de 36 dias de coma.
"Estou cheio de cicatrizes no corpo todo". Ricardo Oliveira aponta para a mais evidente, a da traqueostomia, no pescoço. Depois, são todas as perfurações dos tubos da ECMO. E as marcas invisíveis e que o assombram todos os dias, em forma de pesadelos e de uma angústia que ainda sufoca.
Apoio da namorada
Quando acordou, a meio de dezembro - "olhei para o lado esquerdo e estava cheio de tubos; olhei para o lado direito e tinha uma pilha de máquinas a injetar medicamentos" -, não falava, não sentia a perna esquerda e o restaurante em Labruge, Vila do Conde, onde trabalhava desde maio já tinha sucumbido às restrições da pandemia.
Ricardo apoia-se em Vera, a namorada, só para se levantar da cadeira ou para descer as escadas da casa, em Modivas. "Tenho o nervo peronial comum esmagado, por ter estado em coma. Ando, mas os médicos não sabem como. Não tenho sensibilidade desde o joelho até ao pé", explica, após enumerar o rol de terapias que faz desde que teve alta hospitalar. "Estou privado de trabalhar. Pelo menos, durante meio ano ou oito meses", diz, contando que Vera, que é lojista, teve redução no salário. E ambos ajudam os respetivos pais.
"Sempre fui independente. Era gerente de restaurante, e tinha um salário acima da média. Sempre tivemos uma vida estável. Agora, no início do mês já estamos com a corda no pescoço. A prioridade é pagar a prestação do carro, água, luz e gás", diz Ricardo, a quem "faltavam uns dias para fazer os seis meses para ter direito a baixa" e, por isso, só conta com "um complemento da Segurança Social de 200 euros". Não tem subsídio de desemprego "por não estar apto para ir a entrevistas", e o apoio por doença covid "tem muita burocracia; se calhar, o tempo de receber é o de recuperar".
Iniciativa solidária em preparação
Além da página de Facebook "Vamos ajudar o Ricardo Oliveira", criada por duas amigas de infância de Ricardo e onde se fazem leilões solidários e é indicado o número de conta para donativos, estão a ser preparadas outras iniciativas que visam ajudar a ultrapassar as dificuldades financeiras. Bruno Brini, presidente da Associação Desportiva de Árvore Forças Segurança Unidas, onde Ricardo jogou futsal, adiantou ao JN que vai "organizar um evento solidário para ajudar" a família.