Uma escada em veludo vermelho. Cadeiras reclináveis em pele. Alcatifa no chão. E até uns auscultadores que permitem comunicar directamente com o piloto: nada foi deixado ao acaso no helicóptero que vai transportar o Papa em Portugal.
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É o tenente-coronel António Moldão, 39 anos, comandante da esquadra 751 da Força Aérea Portuguesa (FAP), que vai estar aos comandos do EH 101 Merlin, preparado ao pormenor para transportar o Papa Bento XVI nas viagens que fará em Portugal: quarta-feira à tarde, voa entre Lisboa e Fátima; e na manhã de sexta-feira de Fátima para o Porto, de onde parte, à tarde, de regresso a Roma.
Já é uma tradição a Força Aérea colaborar nas visitas do Papa a Portugal mas, desta vez, há um sabor especial: será a primeira vez na História que um Papa vai voar num EH 101 Merlim, o mais moderno, seguro e maior helicóptero que existe em Portugal. Para esta missão estão alocados cinco dos 12 EH 101 que a Força Aérea tem ao serviço, cada um deles adaptado à importância de quem será transportado: dois estão exclusivamente preparados para o transporte do Papa e do seu séquito de 11 pessoas (um ficará de reserva para o caso do outro falhar); outro destina-se à comitiva do Vaticano e outro à comitiva nacional, cada uma composta por 30 pessoas. O quinto estará de reserva para o caso de algum destes ter problemas.
Foi há cerca de um ano que a FAP soube que iria ser chamada a participar nesta visita, mas só há dois meses é que a operação começou a ser preparada no terreno. Segundo o comandante, os 97 elementos da esquadra estão todos a trabalhar para o sucesso desta missão, mas "a FAP tem muito mais pessoas empenhadas nesta tarefa". "Eu sou só o ponta-de-lança. Não vejo isto como um feito pessoal. Obviamente que fiquei contente quando soube que seria o piloto do Papa, mas tenho a certeza que a honra é para Portugal, para a Força Aérea e para a Nação".
Todos os pormenores estão há muito definidos. Duas horas antes da partida, as tripulações terão de estar a postos e uma amostra de combustível será recolhida, para o caso de haver algum incidente. Por razões de segurança, o helicóptero do Papa será sempre o primeiro a descolar e o último a aterrar e, durante todo o trajecto, será escoltado por aviões caça F16 que irão descolar da base aérea de Monte Real e acompanhar o percurso do helicóptero, a "várias milhas" de distância. São eles que, juntamente com o sistema de defesa aérea nacional, terão a incumbência de zelar pela segurança da viagem.
À partida de Lisboa, o helicóptero do Santo Padre rumará primeiro a Sul para contornar a estátua do Cristo-Rei, em Almada, onde será saudado por milhares de crianças. E só depois segue para Fátima, onde irá sobrevoar duas vezes o recinto do Santuário e só depois aterrar no Estádio Municipal. Na viagem de uma hora para o Porto, será vez de o Papa sobrevoar a zona das vinhas do Douro, na Régua, e a Avenida dos Aliados, onde irá celebrar missa. Só depois aterra no Mosteiro da Serra do Pilar, em Gaia.
Nem António Moldão nem o seu co-piloto, major João Carita, têm especiais expectativas para as viagens que vão fazer com o Papa, mas não disfarçam o peso da responsabilidade. "A intenção é fazermos com que seja um trajecto seguro e aprazível e que, no final, Sua Santidade possa sair com um sorriso maior do que entrou".
Mais do que lhe pedir a benção, o que o tenente-coronel Moldão espera receber do Papa, no final, é um sorriso de satisfação. E, se possível, uma assinatura no livro de honra da Esquadra 751, já preparado para o efeito.