O alerta veio do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e a Direção-Geral da Saúde confirma ao JN a existência de um surto de hepatite A em Portugal. Com 504 casos confirmados, um quarto dos quais em contexto de transmissão sexual.
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Há um surto de hepatite A em Portugal?
Sim. Questionada pelo JN na sequência de uma informação avançada pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), a Direção-Geral da Saúde (DGS) confirma terem sido notificados, neste ano e até 31 de maio, 504 casos de hepatite A. De acordo ainda com a autoridade nacional de saúde, 122, cerca de um quarto, "no contexto de de transmissão sexual". Os casos " foram reportados em várias regiões do país, com maior incidência nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte, nomeadamente no Porto”. O ECDC adianta, ainda, que “a maioria dos novos casos" dizem respeito a "pessoas não vacinadas”.
O que é e como se transmite?
A hepatite A é uma infeção aguda transmitida por via fecal-oral através da ingestão de alimentos ou água contaminados ou por contacto próximo com pessoas infetadas. A transmissão através de contacto sexual, de acordo com a DGS, “tem sido descrita, nomeadamente desde a década de 70, associada a surtos em homens que fazem sexo com homens”. Nestes casos, “o principal fator de risco está relacionado com as várias formas de contacto associadas a práticas sexuais que facilitam a transmissão fecal-oral quando um dos parceiros está infetado (sexo anal, com ou sem preservativo; sexo oro-anal)”.
Como se manifesta e qual o período de incubação?
“A infeção por vírus da hepatite A [VHA] pode ser assintomática, subclínica ou provocar um quadro agudo, quase sempre autolimitado, associado a febre, mal-estar, icterícia, colúria [urina escura], astenia [fraqueza], anorexia, náuseas, vómitos e dor abdominal”, descreve a DGS na norma de vacinação contra esta infeção. O período médio de incubação é de 28-30 dias, variando entre 15 e 50 dias. “A infecciosidade máxima ocorre na segunda metade do período de incubação”, ou seja, quando ainda é assintomática. Acresce que a “maioria dos casos é considerada não infecciosa após a primeira semana de icterícia”.
Como se diagnostica e qual o tratamento?
O diagnóstico é feito através da deteção de anticorpos anti-VHA IgM. No caso de surtos, “o recurso a técnicas de biologia molecular está indicado, por facilitar a caracterização epidemiológica da natureza do mesmo, permitindo a caracterização de clusters”, refere a DGS. De notar que “não existe tratamento específico (…) para além de medidas de suporte e alívio sintomático”. Na maioria dos casos, o “quadro agudo evolui para a cura”, com regresso à condição original.
Há vacina contra a hepatite A? É gratuita?
As vacinas disponíveis no mercado nacional custam entre 17 a 20 euros. Sendo gratuitas para candidatos a transplante hepático e crianças sob terapêutica com fatores de coagulação derivados do plasma. É recomendada, nota a DGS, a contactos de casos confirmados de hepatite A (coabitantes e contactos sexuais), devendo ser vacinados até duas semanas após a última exposição (depois não está indicada). Em contexto de pré-exposição, é recomendada a homens que praticam sexo com outros homens; a viajantes que se desloquem para países na América do Sul, África e Ásia (países endémicos); e a pessoas que vivem com VIH. O esquema contempla duas doses com 6 a 12 meses de intervalo. No caso de surto, uma única dose “contribui para a interrupção da transmissão”.
O que foi feito no surto de 2017?
Naquele ano a Europa enfrentou um surto de hepatite A. Em Portugal, entre 1 de janeiro e 3 de julho de 2017 foram notificados 391 casos, dos quais 89% reportavam ao sexo masculino, sobretudo residentes na área de Lisboa e Vale do Tejo. Na altura, a vacina foi administrada gratuitamente às pessoas com maior risco de exposição ao vírus (contactos de pessoas infetadas e homens que praticam sexo anal ou oro-anal com outros homens). Foi ainda constituída uma reserva estratégica nacional de vacinas contra a hepatite A.

