O site privado que manteve os portugueses informados sobre os fogos no domingo
No pior dia do ano em incêndios, o "fogos.pt" chegou a ter mais de 10 mil utilizadores em simultâneo. Com informação atualizada sobre os incidentes em todo o território continental, deu resposta às dúvidas da população, quando as plataformas da Proteção Civil e do Ministério da Administração Civil estavam com limitações.
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"Tudo começou como uma brincadeira, em 2015, quando criei uma plataforma para os meus amigos acederem à informação da Proteção Civil", conta ao JN, João Pina, criador e responsável pelo site "fogos.pt". Na plataforma, que também está disponível nas redes sociais e nas aplicações móveis para Android e IOS, há informação atualizada sobre os fogos a lavrar em Portugal.
"O projeto foi bem recebido e tive de inovar face às necessidades. Este ano, foram criados alertas para notificar os utilizadores dos fogos com maior magnitude", conta João, que partilha alguma das tarefas com irmão Rui. "Também conseguimos dar informação sobre as estradas cortadas por causa dos fogos e tentamos responder às questões levantadas no Facebook", acrescenta.
Mesmo sem qualquer investimento em publicidade, o serviço atinge um número de utilizadores notável. Em agosto, a média de utilizadores em simultâneo foi superior aos quatro mil, contabilizando mais de um milhão de acessos únicos. "Foi tudo feito com base no passa a palavra. A única campanha que fizemos foi no São João, por causa dos balões, em que alertamos as pessoas para o risco de incêndios", refere.
Domingo negro quase deitou site a baixo
Os últimos quatro meses dificilmente deixarão a memória dos portugueses. Morreram quase cem pessoas, em fogos que queimaram uma grande parte do território nacional, sendo os de Pedrógão, em junho, e os do passado fim de semana provocaram mais estragos. "O último domingo foi o dia em que tivemos mais acessos. Foram mais de 10 mil pessoas em simultâneo", refere João.
"Não estávamos a conseguir manter o site ativo e só foi possível continuar online com a ajuda dos seguidores". O limite máximo de acessos ao Google Maps, que serve como base geográfica ao site, foi atingido. "Lançamos um alerta no Twitter e tivemos muitas pessoas que, mesmo com poucos conhecimentos de informática, registaram-se e deram-nos as suas senhas de acesso para podermos manter tudo a funcionar. Foi verdadeiramente surpreendente", explica.
Pouca informação oficial nas plataformas digitais
A Autoridade Nacional da Proteção Civil tem um site, com informações disponíveis sobre os fogos ativos em Portugal, por distrito. As informações nas redes sociais limitam-se ao Facebook e não existe qualquer aplicação, com notificações, disponível para smartphones. No domingo, o site registou diversas falhas, tornando-se inacessível durante vários minutos.
Nas plataformas do Ministério da Administração Interna, a informação sobre fogos também é limitada, com menos de 20 publicações no Twitter, em outubro, sendo que a maioria é de conteúdos institucionais.
Ao JN, João Pina conta que desde que o "fogos.pt" começou a funcionar manteve contactos com Autoridade Nacional da Proteção Civil. "No ano passado, chegamos mesmo a ter uma reunião", referiu.
Para o ano, e fruto do sucesso registado nos últimos meses, João vai continuar os desenvolvimentos da plataforma, ao mesmo tempo que trabalha em outras "da mesma família". "Há a uma de emergências, outra destinada à informação sobre as cheias e uma outra para as trovoadas", revela.
"São projetos que quero desenvolver, mas com calma, porque é tudo feito nos tempos livres", conclui.