Estudar em casa não tem sido tarefa fácil para David Correia, aluno do 8.º ano na Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos de Izeda, uma vila a cerca de 20 minutos de Bragança.
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Aos 16 anos, o jovem anda pouco entusiasmado com o ensino. Não o esconde. "Gosto pouco da escola", admite o aluno, que é empurrado para a aprendizagem pela mãe. "Gostava que ele estudasse, mas não tem interesse. Não consigo motivá-lo", confessa Maria Beatriz Bernardo.
Se o desinteresse pela escola já tem anos no caso de David, o problema agravou-se com o estudo em casa e a distância dos docentes. O jovem vai fazendo a custo os trabalhos que, durante várias semanas, a diretora do Agrupamento Abade de Baçal lhe enviou pelo Correio, e só graças à insistência da mãe.
"Quando tenho dúvidas, não faço. Não percebo a matemática. Só tenho contactado com o diretor da escola de Izeda, nunca mais falei com os professores. Quando ia às aulas, aprendia mais, porque os professores explicavam a matéria e tinha acompanhamento de uma professora", conta David, que sente pouco a falta das aulas. "Só tenho saudades dos colegas", desabafou.
O David não tem computador, mas a sua casa tem Internet e televisão. A mãe explica que a escola lhe arranjou um, mas que era "velho e lento e não servia para usar". A diretora do Agrupamento, Teresa Sá Pires, admite que a instituição reciclou vários computadores, onde foram introduzidos os programas atuais, que "serviam perfeitamente. Só que os alunos estavam mais interessados em usar o Facebook e acabaram por devolvê-los", diz a diretora, reconhecendo a "desmotivação" por parte dos alunos da vila.
Acompanhar o #EstudoEmCasa pela telescola é inviável, segundo a mãe de David. "Só temos uma televisão, que está na cozinha, e somos muitos cá em casa. Há muito barulho e eles (o David tem uma irmã) não se concentram e até se lhe varre a vontade".
preferia ir à escola
Mais nova, Jéssica Esteves, oito anos, aluna do 2.º ano em Izeda, acompanha as aulas pela telescola e gosta. "É giro. Vejo na televisão e vou fazendo os TPC. Às vezes, não percebo bem as coisas, mas a minha irmã explica-me, porque ela já é grande e sabe muitas coisas. A maior parte do tempo estudo sozinha", explicou a menina, que está com vontade de ir para o 3.º ano e gosta de andar na escola.
"Às vezes, o professor telefona-me, mas eu digo que não tenho dúvidas. Eu gostava mais de ir à escola, porque a professora explica melhor lá e também posso brincar com os meus colegas. A matemática é difícil de entender e, por isso, gosto mais de Estudo do Meio. Mas o que gosto mesmo é de pintar, que é a minha coisa favorita", referiu Jéssica.
A mãe, Celina Anjos, que vai religiosamente à escola de Izeda levantar e entregar os TPC ou o envelope pedagógico, admite que em setembro a filha "estará mais atrasada do que muitos colegas". Também Jéssica não dispõe de computador. "Dava jeito", garantiu.