A catástrofe estava há muito enunciada, mas poucos conseguiram entender. A completa insustentabilidade da paisagem de grande parte do território ficou de tal modo clara, após os catastróficos incêndios do último verão, que a questão não poderá voltar a ser negligenciada, sob pena de condenar 3/4 do território nacional a um ciclo vicioso de mais "grandes Incêndios", "desertificação", "pobreza".
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As políticas nacionais e comunitárias para estes territórios falharam rotundamente. Efetivamente, após tantos Quadros de Apoio Comunitário... o resultado é profundamente desanimador em grande parte dos territórios rurais.
Nestas áreas assistiu-se a uma enorme desertificação humana e à expansão descontrolada das áreas florestais, a que se seguiu, naturalmente, o aparecimento dos grandes incêndios florestais. A melhoria contínua dos sistemas de combate foi a solução perseguida pelo País e sempre reforçada após cada nova tragédia. Basta! Já devia ser para todos evidente que o "combate" não esta a resultar. Apesar do reforço contínuo com mais meios e recursos, é cada vez mais evidente a total inexistência de resultados.
Só será possível atenuar efetivamente a situação, procedendo a um reequilíbrio da paisagem, diminuindo as áreas florestais, reduzindo significativamente e gerindo continuamente a quantidade de biomassa, compartimentando os grandes blocos de floresta com áreas de reduzida carga combustível, sendo a forma mais barata de realizar estas mudanças, a reintrodução de algumas atividades agrícolas e da pastorícia.
É necessário planear uma nova paisagem e implementar projetos com a escala adequada, capazes de promover efetivamente um novo ordenamento do território. No entanto, só teremos sucesso se com uma gestão" cuidada for possível atingir a sustentabilidade económica e ambiental de todo o processo.
Mas estamos em territórios de minifúndio, onde reina o abandono e falta gente. A terra pertence hoje, na sua maior parte, a proprietários que nasceram no mundo rural mas já vivem nas cidades e não vão voltar.
Necessitamos de apoiar os poucos proprietários que têm condições para aumentar a área de que cuidam, mas sobretudo de novas ferramentas que permitam agregar funcionalmente as pequenas propriedades. Necessitamos de ZIF bem organizadas e com o apoio adequado. Necessitamos de associações florestais fortes, para organizar, à escala que é necessário, os proprietários e implementar a multifuncionalidade e a gestão com lógicas empresariais e associativas. Necessitamos de EGF (Entidades de Gestão Florestal) e UGF (unidades de Gestão Florestal).
Mas os recursos financeiros disponíveis não são de modo algum compatíveis com o que é necessário e o próximo quadro comunitário terá ainda menos apoios.
Este deveria ser o momento de o nosso Governo anunciar a criação de um Fundo Soberano de Apoio à Floresta, dotado de meios e instrumentos financeiros compatíveis com a dimensão dos problemas que temos que enfrentar.
Vice-presidente da Câmara Municipal de Mação e presidente da Direção Do Fórum Florestal - Estrutura Federativa da Floresta Portuguesa