Prematuro que morreu não tinha suspeita de infeção. Face ao aumento da taxa de resistência, norma determina rastreios nos hospitais em certos casos.
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Os onzes bebés portadores de uma bactéria multirresistente que ontem continuavam internados no serviço de neonatologia Hospital de Santa Maria encontravam-se “estáveis”, recebendo visitas dos pais. Desde a semana passada, contabilizam-se 15 casos, dos quais três tiveram alta e um viria a falecer. Este bebé “não tinha suspeita de nenhuma infeção e não estava a fazer antibiótico”, segundo o diretor de infecciologia. Com o aumento da taxa de resistência, foi publicada uma norma que determina a realização de rastreios, aquando de internamento, em doentes com determinados fatores de risco.
“Os 11 bebés estão estáveis. A maior parte são grandes prematuros que, independentemente de estarem colonizados, têm que permanecer no hospital até terem um grau de desenvolvimento que os permita ir para casa”, explicou o diretor de infecciologia do Santa Maria. Segundo Álvaro Ayres Pereira, os recém-nascidos “estão a receber visitas, escaladas para não haver possibilidade de cruzamento”, tanto que a transmissão se faz por contacto.
Desde a semana passada, disse ao JN fonte oficial do centro hospitalar, há registo de 15 casos de bebés colonizados com “klebsiella pneumoniae”, 11 dos quais continuavam ontem internados, tendo três tido alta e um falecido. Segundo Álvaro Ayres Pereira, “quando faleceu não tinha suspeita de nenhuma infeção e não estava a fazer nenhum antibiótico”. Sublinhando que “teria falecido com esta bactéria ou com outra”.
Afinal, de que bactéria estamos a falar? “A ‘klebsiella pneumoniae’ é uma bactéria que existe em todos nós, nomeadamente no nosso intestino. O problema é que as bactérias são capazes de estabelecer mecanismos de resistência, sobretudo quando expostas a antibióticos”, explica, ao JN, o diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA).
No caso em apreço, a bactéria adquiriu resistência à classe dos carbapenemos (KPC), “estabelecendo uma mutação que a faz fabricar uma enzima que destrói esse antibiótico”, esclarece José Artur Paiva, tornando mais difícil o tratamento.
Rastreios nos hospitais
E se, por um lado, se assiste a “um curso decrescente das resistências, esta é a única que é crescente”. Segundo o diretor do PPCIRA, “nos últimos dez anos a taxa de resistência a esta bactéria aumentou de 2% para 12%”. O que acontece de forma generalizada, com as maiores taxas a registarem-se na “Grécia, Itália e Roménia”.
Sendo motivo de “preocupação especial, foi publicada recentemente uma norma que diz que em pessoas que são internadas no hospital e que têm determinados fatores de risco [como insuficiência renal crónica ou vindas de lares] ou em áreas críticas [como os cuidados intensivos] deve ser feito um teste de rastreio para analisar se são portadores desta combinação da bactéria com a resistência”, revela José Artur Paiva. Sublinhando que “a esmagadora maioria das pessoas” que tem KPC “não está infetada, está colonizada, é portadora”.
No caso de infeção, explicou Álvaro Ayres Pereira, o protocolo define que “as crianças comecem a fazer antibiótico que cobre uma série de bactérias, à qual se acrescentou um antibiótico adicional que também cobre bactérias que apresentem este tipo de resistência”, isto enquanto não se descobre qual a bactéria que provoca a infeção.