Oposição critica Governo, AD diz que Chega e BE são "extremistas". Partidos reagem à violência
A Oposição criticou o Governo na sequência dos tumultos da Grande Lisboa, embora com argumentos distintos: o PS pediu "mais coordenação e explicação", o Chega exigiu que o Executivo se coloque "incondicionalmente" ao lado da polícia. Já PSD, CDS e IL acusaram tanto o Chega como o BE de serem partidos "extremistas".
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O dia começou com uma curta intervenção da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco. A governante falou em "distúrbios inadmissíveis" e garantiu que o Governo está a acompanhar atentamente a situação. Garantiu ainda que as autoridades "tudo farão para garantir a ordem", informando que os distúrbios resultaram em três detidos.
O presidente da República falou do caso às televisões. À SIC, vincou a importância das "soluções pacíficas" na resolução de conflitos e pediu que "se resista à tentação da violência", uma vez que esta pode resultar numa "escalada".
"A minha preocupação é que se crie ou se alimente um clima de subida de violência, verbal, naquilo que se diz, nas iniciativas que se toma", prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, alertando que isso teria "um custo enorme". Sem se referir à morte de Odair Moniz - que espoletou os tumultos - falou, em termos genéricos, em "problemas económicos, sociais" e em "injustiças", frisando que algumas delas vêm de "há muito tempo".
PS diz que tem havido "défice" de intervenções públicas do Governo
No Parlamento, a líder da bancada do PS, Alexandra Leitão, considerou que devia estar a haver "mais coordenação e mais explicação" da parte do Governo, de modo a minimizar o "alarme social". Nesse sentido, lamentou o "défice de intervenção" pública do Executivo.
"As pessoas que estão em casa a ver autocarros incendiados. Isso também cria alarme social, também cria uma situação de insegurança, e o Governo deve vir dar uma palavra de pacificação, de acalmia e de que o trabalho está a ser feito para, exatamente, evitar esse alarme social", defendeu a socialista.
Alexandra Leitão pediu ainda uma "intervenção moderada" nos bairros afetados, de modo a resolver os problemas "sem tensões exageradas". Evitou comentar a morte de Odair Moniz - que espoletou os tumultos no bairro do Zambujal, na Amadora - até que se apurem todas as "circunstâncias".
André Ventura, do Chega, também endereçou críticas ao Governo, embora para exigir que este se coloque "incondicionalmente" ao lado da polícia e do agente da PSP que baleou Odair Moniz. O líder do Chega disse mesmo que este agente deve ser "louvado".
Ventura pediu que o Executivo seja implacável com indivíduos a quem chamou "rascaria": "Ou damos um sinal político de que estas pessoas terão tolerância zero, ou arriscamos outra noite de conflitos, turbulência e desacatos", atirou. Considerou ainda que a polícia "não pode ter medo de atuar" e, sobre a morte de Odair Moniz, disse que "nada indica" que a PSP tenha agido "de forma desproporcional".
"Abutres" que incitam ao "ódio": AD e IL apontam dedo a Chega e BE
A AD (composta por PSD e CDS) e a IL fizeram intervenções de teor semelhante, nomeadamente ao estabelecerem uma equivalência entre Chega e BE. "Os extremos políticos tocam-se, efetivamente", afirmou o líder da bancada laranja, Hugo Soares. João Almeida, do CDS, acusou os mesmos partidos de incitarem ao "ódio" e Rui Rocha, líder da IL, classificou-os como "abutres" que querem "incendiar" os ânimos.
Hugo Soares endereçou também uma "palavra de solidariedade" aos moradores dos bairros afetados pelos desacatos, dizendo que o PSD não toma a parte pelo todo. Referiu, contudo, que os criminosos "devem ser chamados à lei e à justiça" e expressou "gratidão" aos agentes de autoridade que estão no terreno "a acautelar a segurança, a paz pública e a ordem".
Sobre o agente da PSP que baleou mortalmente Odair Moniz - e que já foi constituído arguido -, o líder parlamentar social-democrata referiu: "Sempre que há excecionalidades elas devem ser investigadas".
Já João Almeida, do CDS - parceiro de coligação do PSD - acusou tanto o Chega como o BE de "incitarem à violência e ao ódio" e considerou que "os extremos estão todos do mesmo lado".
Também Rui Rocha, da IL, apontou ao partido de André Ventura e aos bloquistas, considerando que os primeiros dizem que "os polícias têm sempre razão", ao passo que os segundos "têm "a prática de dizer que a polícia nunca tem razão".
O liberal pediu que o Governo seja "decidido" e "incisivo" na reposição da ordem, considerando ainda que a polícia portuguesa está demasiado sobrecarregada com trabalho burocrático e administrativo.
Balas "atingem mais depressa" pessoas negras, diz BE
A posição do BE, que suscitou reações à Direita, foi transmitida por Fabian Figueiredo. Argumentando que as balas "atingem mais depressa" certas pessoas, "sobretudo negras", o líder parlamentar do partido pediu "uma polícia sintonizada com o Estado de Direito". Considerou ainda que estes tumultos são fruto da "permanente estigmatização" feita aos habitantes de bairros periféricos.
"Portugal é uma democracia que, na sua lei, tem de tratar todas as pessoas por igual. E o que nós sabemos é que a ação policial, vezes demais, nos subúrbios de Lisboa, não trata todos os cidadãos da mesma forma. E é esse o incêndio que nós temos que apagar, para apagar todos os outros", completou o bloquista.
António Filipe, do PCP, repudiou "quaisquer atos de violência e manifestações de apelo ou incitamento à violência", pedindo "calma" às populações. Pediu o apuramento "cabal" das circunstâncias que levaram à morte de Odair Moniz, frisando que, sem isso, não se pode nem "condenar à partida" a ação da polícia nem "presumir que correu tudo bem".
O comunista apelou ainda a que as forças policiais atuem com "adequação" e "serenidade", mesmo em situações difíceis.
Paulo Muacho, do Livre, condenou a intervenção da ministra Margarida Blasco, argumentando que "este não é o momento de acicatar os ânimos". O deputado acusou a governante de "utilizar uma linguagem de força bruta" em vez de contribuir para "serenar" a situação.
Lembrando que este tipo de situações acontecem "há muitos anos", o deputado do Livre salientou que é necessário perceber "o que está a falhar". Anunciou ainda que apresentará uma pergunta ao Governo no seguimento das denúncias de que a polícia terá forçado a entrada na casa da viúva de Odair Moniz.
Inês Sousa Real, do PAN, apelou à "paz social" e salientou a importância de não se "ceder aos populismos".