A Oposição quer que o primeiro-ministro esclareça por que motivo não incluiu, na sua agenda oficial, a escala que realizou na Hungria, a 31 de maio, quando viajava para uma cimeira europeia na Moldova a bordo de um avião do Estado. Chega e IL consideram que António Costa assistiu à final da Liga Europa ao lado do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, por estar em campanha para chegar a um cargo europeu.
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O eurodeputado e vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, acusou o chefe do Governo de ter tentado "esconder até ao limite" a escala que fez em Budapeste, a bordo de um Falcon 50 do Estado, quando estava a caminho da cimeira da Comunidade Política Europeia, na Moldova. O presidente da República já disse ter sido informado dessa paragem.
Em declarações à SIC Notícias, Rangel disse que a questão essencial neste caso é saber "por que é que se usou um meio público para uma visita de caráter privado". Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Costa alegou que ia fazer a escala para dar "um abraço" a José Mourinho, treinador da Roma, que disputou a final com o Sevilha.
O eurodeputado argumentou que essa explicação "não tem sentido absolutamente nenhum", até porque Costa terá entrado no estádio depois e saído antes de Mourinho. Sublinhou que uma visita privada "não pode ser feita com um meio público", vincando que o primeiro-ministro "já teve tempo de esclarecer" o assunto e ainda não o fez.
Rangel lamentou também que a escala em Budapeste tenha sido "ocultada" da agenda de Costa, dizendo que este comportamento é "um padrão" no Governo. Frisou ainda que o facto de o primeiro-ministro ter informado Marcelo Rebelo de Sousa "não atenua" a gravidade do episódio: "Quando se usam meios públicos, quem tem de ser avisado é o povo português".
Sobre o encontro com Viktor Orbán - líder de Direita nacionalista que tem tido fricções com as cúpulas liberais da União Europeia -, Paulo Rangel afirmou que Costa "teve sempre uma grande cumplicidade" com o homólogo húngaro. Questionado sobre se a visita pode significar que o primeiro-ministro português quer chegar a um cargo europeu, respondeu apenas: "Se está em campanha, tem de o dizer".
"Costa já está pouco preocupado com Portugal"
André Ventura, líder do Chega, acredita que a escala na Hungria pode mesmo ter sido uma "ilegalidade", já que o avião Falcon serve apenas para deslocações oficiais. "O primeiro-ministro não é dono dos equipamentos do Estado", lembrou.
No entender de Ventura, a visita a Orbán mostra que Costa, "neste momento, já está pouco preocupado com Portugal", razão pela qual terá aproveitado para "assegurar o seu futuro na Europa". O cargo que mais tem sido apontado ao chefe do Executivo é o de presidente do Conselho Europeu, atualmente desempenhado por Charles Michel e que ficará vago em novembro de 2024.
Ventura também considerou que a visita foi uma "tremenda hipocrisia e imoralidade", criticando Costa por se ter encontrado com Orbán depois de o ter "boicotado" na Europa.
Mariana Leitão, membro do Conselho Nacional da IL, também exigiu esclarecimentos. "Das duas uma: ou foi uma visita oficial e devia estar na agenda - e é importante que o primeiro-ministro venha explicar por que é que não está - ou então não foi uma visita oficial e não há razão nenhuma para se ter utilizado o Falcon", resumiu.
A liberal acredita que Costa está em campanha para um cargo europeu e que "essa situação não é de agora". A seu ver, o encontro com Orbán foi apenas "mais um indício" de que o socialista continua a fazer "diligências" nesse sentido.
Considerando que Costa tem um "histórico de alta tolerância" com a "Direita nacionalista", Mariana Leitão atirou, a propósito do encontro do primeiro-ministro português com o homólogo húngaro: "Não deixa de ser estranho que quem tanto critica André Ventura depois partilhe exatamente de algumas das suas amizades".
Esquerda também critica mas diz que há temas mais importantes
Também o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou que a escala que António Costa fez em Budapeste "não é normal". "Sendo uma notícia, tem de ser esclarecida pelo primeiro-ministro, naturalmente", frisou, antes de acrescentar: "Mas todos os problemas do país fossem esses".
Raimundo relativizou a suposta vontade do líder do Executivo de assumir um cargo europeu. "Essa campanha eventualmente estar a andar ou não estar é aquilo que menos preocupa os portugueses", referiu.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, criticou igualmente a visita-relâmpago de Costa à Hungria. Contudo, tal como o PCP, também evitou fazer deste tema um assunto político central.
"Este episódio é lamentável, a utilização de recursos do Estado é lamentável, e é lamentável [ver] o primeiro-ministro, na Hungria, ao lado de um líder autoritário de extrema-direita como Viktor Orbán. Mas acho que o país tem coisas mais importantes para debater, sinceramente", afirmou a bloquista, dando como exemplo a questão da habitação.