Alfredo Cunha, o lendário repórter fotográfico, tem 20 anos outra vez. É madrugada, a noite passa de 24 para 25 de abril, estamos em 1974, vamos viver uma revolução. Mas nem por sonhos o jovem fotógrafo, que ali ainda não era uma lenda, imagina o que lhe vai acontecer.
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E acontece tudo, tudo em todo o lado, tudo ao mesmo tempo, até deflagrar num encontro cósmico: vai ficar cara a cara com Salgueiro Maia, o melancólico capitão que a sua fotografia imortalizou numa manhã há 50 anos. A NM desfia com ele a linha imemorial do tempo e tudo torna acontecer outra vez. Mas, afinal, quantos dias durou aquele dia?
Alfredo, que tinha 20 anos e nessa hora revolvia-se impremeditável na cama da sua casa na Amadora, ouviu outra música na rádio de que gostou. A música era nova e misteriosa, parecia um tumulto a decorrer lentamente, começava e acabava com chuva e ameaças e falava de coisas incalculáveis, imprevisíveis, de coisas repentinosas na vida, e dizia, pareceu-lhe, a voz dizia-lhe que ele e nós todos somos os cavaleiros, que estamos sozinhos como cães sem um osso, e que está a decorrer uma tempestade. Teve a sensação de ficar hipnotizado.