As comunidades portuguesas que moram além-fronteiras estão a afinar os últimos detalhes. O cinquentenário da Revolução dos Cravos está quase aí e está a ser vivido muito para lá de Portugal. Em vários cantos do Planeta, há associações, Embaixadas, antigas e novas gerações a trabalhar afincadamente nos festejos.
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“Estes 50 anos para mim, que vivi outro período, a emigração, a forma como chegámos aqui, mexem comigo. É muito emocionante.” António da Cunha fica até comovido a falar das celebrações que se têm vindo a preparar pela Suíça, mesmo que o associativismo da comunidade portuguesa por lá já não seja o que era, que os tempos e os próprios emigrantes sejam outros. O cinquentenário da Revolução dos Cravos parece estar a trazer de volta o espírito de união e é para comemorar em grande. “Nunca houve um orçamento tão importante na história da emigração portuguesa na Suíça. São 50 mil euros.” Tudo para o programa das festas que a Federação das Associações Portuguesas na Suíça (FAPS), de que faz parte, tem pensado ao detalhe - lá iremos.
António fala-nos a partir de Renens, cidade situada entre Genebra e Lausanne. E a emoção tem razão de ser. Afinal, emigrou para a Suíça depois de ter passado três meses na prisão de Caxias, por ter sido apanhado por um agente da PIDE a distribuir flyers às portas da Universidade de Coimbra, onde estudava Medicina. Os panfletos demonstravam apenas solidariedade com dois estudantes que haviam sido presos e que nem conhecia. Na verdade, estava só a ajudar uma colega por quem tinha um amor platónico, mas o acaso custou-lhe o destino. Logo depois de ser julgado e absolvido, saiu de Portugal, com “uma falsa licença militar”, chegou à Suíça em 1972, a completar 20 anos. “Foi uma rutura total na minha vida”, recorda. A Medicina ficou pelo caminho, acabaria por retomar os estudos na Suíça, formou-se em Economia, é hoje professor emérito da Universidade de Lausanne. Em 1974, ainda voltou a Portugal, logo que soube da Revolução, para ver com os próprios olhos e ouvir Mário Soares e Álvaro Cunhal discursarem no 1.º de Maio.