Os "extremos" a "liberdade": Governo e oposição viram coisas diferentes nas manifestações de Lisboa
"Extremos saíram à rua", marcha pela "liberdade" e acusações de instrumentalização da polícia. Depois da manifestação "Não nos encostem à parede" de ontem, em Lisboa, políticos da esquerda à direita fizeram leituras distintas do que se passou.
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Luís Montenegro considerou que os "extremos saíram à rua" ao referir-se à manifestação antirracista, apoiada por muitos militantes e dirigentes do PS, Bloco de Esquerda, PCP e Livre, e à vigília do Chega que aconteceram, no sábado, ao mesmo tempo, em Lisboa. Para o primeiro-ministro, o momento mostrou que o Governo é um elemento de moderação: "nós somos o elemento aglutinador, de confluência, de moderação", afirmou, no discurso de encerramento do encontro nacional de autarcas do PSD. Mas a palavras não caíram bem à coordenadora do BE, Mariana Mortágua, que criticou as declarações
A coordenadora do BE respondeu a Montenegro, criticando que o primeiro-ministro tenha equiparado os movimentos. "Montenegro diz que 'os extremos' saíram hoje à rua. À velha arrogância cavaquista perante a crítica, junta a simetria irresponsável entre racismo e anti-racismo. Se não seguisse o Chega, não sentiria necessidade de se distanciar dos milhares que encheram as ruas pela liberdade", acusou Mariana Mortágua, numa mensagem no seu perfil da rede social X.
No sábado, também o secretário-geral do PS reagiu às ações que decorriam no centro de Lisboa. "É uma manifestação pelos valores do nosso país, da democracia, da liberdade, do Estado de Direito e da união do povo português, contra todas as tentativas de instrumentalização da polícia, de instrumentalização das forças de segurança e todos os discursos que visam dividir a população", considerou Pedro Nuno Santos, acusando o Chega, o primeiro-ministro e o Governo de o fazerem.
O Chega também esteve na rua ontem, organizando uma vigília de apoio à PSP, na Praça da Figueira, a poucos metros do Martim Moniz, como resposta à manifestação. O PSD, o CDS e a Iniciativa Liberal foram os únicos partidos com assento parlamentar que não participaram em nenhuma das ações que decorreram no sábado. Perante cerca de duas centenas de apoiantes e militantes, André Ventura considerou que Montenegro deveria ter estado na ação contra "aqueles que querem destruir a imagem das forças de segurança".
Já no Martim Moniz, após terminar a marcha antirracista, vários dos organizadores discursaram e recusaram a instrumentalização política do movimento. Já ao JN, Anabela Rodrigues, porta-voz da Associação Solidariedade Imigrante (Solim) rejeitou que a manifestação fosse contra a polícia, mas sim contra a forma como está a ser usada por retóricas divisivas do Governo e de partidos.