"Aconteça o que acontecer, a luz do farol nunca pode apagar". É para garantir que esta missão se cumpre, todos os dias, que muitos faroleiros ainda moram nas torres de assinalamento marítimo.
Corpo do artigo
"Temos de estar lá porque pode haver uma avaria e é preciso resolvê-la, e quem anda no mar ainda conta com a luz do farol", diz Marques Martins, faroleiro no Cabo Carvoeiro, em Peniche. Durante muitos anos, os faróis estiveram fechados ao público. Desde que abriram para visitas, em 2011, já receberam milhares de pessoas.
Só no último ano, 85 071 visitaram os 28 faróis portugueses abertos ao público (ver infografia), menos 16 542 (16%) que em 2018 (101 613), "que foi um ano atípico em número de visitantes", justifica a Autoridade Marítima Nacional, que prefere realçar a "tendência no crescimento, em média 9500 por ano".
O Farol da Ponta do Pargo, na Madeira, foi o que recebeu mais visitas (15 101) em 2019, seguindo-se o Farol de Aveiro (13 457), o mais visitado em 2018. Muitos "ficam surpreendidos ao saberem que o farol é um sistema de orientação marítima ou por vivermos cá", conta Martins. "E todos têm uma curiosidade, perceber qual a função de um faroleiro hoje, uma vez que a tecnologia já permite que os faróis funcionem automaticamente", revela.
Marques Martins, faroleiro desde 1982, não tem dúvidas de que o seu trabalho é "imprescindível". Os barcos de pesca e recreio, que não têm sistemas de localização, estão muito dependentes dos sinais dos faróis. "Em situações de aflição, somos cruciais. Se há uma tempestade e o pescador perde os pontos de referência para se orientar, e os equipamentos a bordo avariam, a primeira coisa que faz é procurar um ponto em terra para se posicionar", explica.
Manutenção e solidão
Hoje, grande parte do tempo de um faroleiro é passado a fazer "pequenas reparações e manutenções". "É a nossa rotina, garantir que tudo funciona", explica. Além disso, a presença humana no farol acaba também por ter "um efeito dissuasor do vandalismo". "A maioria dos faróis são centenários, situados num meio muito abrasivo, que potencia o seu desgaste, e em sítios isolados. Se não houver permanência humana facilmente começam a degradar-se", explica.
A solidão é um problema para muitos faroleiros. Marques Martins, apesar de passar muito tempo sozinho, longe da terra natal, Aveiro, diz que suporta bem o isolamento. E até que tem "a melhor profissão do Mundo". "Gosto muito do que faço e vivo à beira-mar, um privilégio", diz entusiasmado.
Muitos faroleiros nasceram e cresceram nos faróis, mas não é o caso de Marques Martins, que não tem nenhum familiar ligado a esta atividade. "Foi por paixão", garante.
Números
53 faróis existem em Portugal: 30 no Continente, 16 nos Açores e sete na Madeira. Destes, 28 estão abertos aos visitantes.
62 metros de altura tem o Farol de Aveiro, assim denominado, apesar de estar na praia da Barra, em Ílhavo. É o mais alto de Portugal e um dos três maiores da Europa. Tem 271 degraus de pedra e 20 de ferro.