Os partos do futuro: massagens com fibras óticas e feixes de luz aliviam tensão
Famalicão tem a primeira sala sensorial snoezelen, mas há mais hospitais interessados em replicar este modelo.
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O novo bloco de partos da unidade de Famalicão do Centro Hospitalar do Médio Ave, inaugurado em setembro, conta com uma sala snoezelen. É a primeira sala sensorial a ser criada num bloco de partos no país, mas já há outras unidades de saúde a implementar estruturas semelhantes de humanização do parto, como é o caso da Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, que pretende ter uma sala idêntica. O Centro Hospitalar Universitário do Porto está a desenvolver um projeto semelhante e a maternidade de Abrantes quer criar "em breve" uma sala do género.
Este tipo de salas são compostas por vários equipamentos de terapia sensorial e têm como objetivo ajudar o relaxamento das grávidas e parturientes, e contribuir para diminuir o "desconforto" durante o trabalho de parto.
A sala snoezelen da unidade de saúde famalicense surge no âmbito do projeto "Humanização do Parto". "Esta sala estimula os sentidos e permite que a grávida relaxe", diz Saritta Nápoles, médica ginecologista e obstetra coordenadora do projeto, cujo objetivo é, também, "transmitir às famílias a confiança e serenidade necessárias durante o trabalho de parto".
Além das condições físicas do próprio bloco de partos, essa tranquilidade pode ser alcançada com a ajuda de instrumentos e técnicas presentes no espaço de terapia sensitiva. Massagens com fibras óticas, colchão vibratório e de água, projetores de luz, poltrona de massagem e cremes aromáticos de massagens são alguns dos elementos presentes nesta estrutura que, conjugados com sons, texturas e cores, permitem combater a ansiedade e a tensão. Cada parturiente é sempre supervisionada por um enfermeiro especialista, que a ajuda no relaxamento. Os profissionais receberam formação específica para o efeito.
Para Maria José Maia, enfermeira especialista de saúde materna e obstetrícia do CHMA, "trata-se de juntar práticas novas à rotina diária". "Sem nunca descurar a segurança da mãe e do bebé".
O recurso a este espaço de estimulação dos sentidos depende das necessidades de cada parturiente e também da sua vontade e preferências, mas tem suscitado interesse. "Cada grávida tem necessidades e gostos diferentes", diz Saritta Nápoles, acrescentando que o espaço pode ser utilizado por mulheres cujo parto vai ser induzido ou em trabalho de parto.
Contudo, a sala sensorial não está preparada para o período expulsivo. Esse momento acontece nos quartos individuais. Nestes espaços privativos do CHMA, mas também nos da maioria das maternidades do país, também existem alguns recursos que ajudam à redução da tensão, como bola de pilates e amendoim, musicoterapia ou hidroterapia (ler ao lado).
Raissa Vasconcelos teve oportunidade de estar "um pouco" na sala sensorial durante o trabalho de parto do segundo filho e considera que "tira o foco da dor e puxa a atenção para outro lado". Também recorreu à bola de pilates e à música. "Gostei muito", sublinha.
O projeto "Humanização do Parto" que o CHMA tem em desenvolvimento pretende eliminar, tanto quanto possível, o aspeto de ambiente hospitalar e dar uma "assistência humanizada" à mulher. "O intuito é devolver à mulher a capacidade que tem de parir sem abdicar da segurança", aponta Saritta Nápoles.
Outras técnicas
Bola de pilates e bola de amendoim
O uso de bolas de pilates e de amendoim (uma bola que tem o formato da semente) ajuda a acalmar as dores na coluna durante a gravidez e também durante o trabalho de parto. São disponibilizadas na maioria das maternidades do país.
Hidroterapia
Pode ser feita na piscina ou no chuveiro para ajudar ao relaxamento da grávida. É uma estratégia já utilizada em muitas unidades de saúde. De resto, o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde tem uma piscina que ajuda ao relaxamento durante o trabalho de parto e que chegou a ser procurada por parturientes de fora da região.
Música
A possibilidade de a grávida levar a sua própria playlist para ouvir durante o trabalho de parto é uma realidade, assim como utilizar óleos essenciais para auxiliar no alívio da ansiedade e dor.
Entrevista
Que vantagens há na criação de salas snoezelen nos blocos de partos?
Estas salas são mais um passo no conceito de cuidados centrado na mulher em trabalho de parto, com mais atenção ao ambiente físico. O cenário onde decorre o parto pode ser a diferença entre uma experiência satisfatória e uma traumática. O desafio é a criação de espaços seguros com ambientes promotores de uma experiência positiva.
Têm desvantagens?
Não vemos desvantagens até porque, se o ambiente respeitar a fisiologia do parto, está tudo bem. O que importa é perceber as preferências de cada mulher. Atualmente, há estudos que apontam para resultados positivos ao nível da diminuição da intensidade da dor, e outros referem que não há diferença significativa nos parâmetros biológicos. Mas a experiência e memória do parto vão para além dos dados objetivos.
Os hospitais estão mais abertos e alerta à humanização do parto?
Sim e não. Sim, porque muitas instituições estão mais sensíveis a essas questões, estão a perceber que não respondem às expectativas das mulheres, e, como consequência, têm uma diminuição significativa no número de partos. E não, no modo de pensar e agir. Muitas equipas continuam a considerar o parto como um "risco", uma "doença" e agem em conformidade.