Seis dirigentes do PS e PSD fizeram frente a governos de maioria absoluta. Guterres e Jorge Sampaio vingaram. Sociais-democratas tiveram três presidentes durante o mandato de José Sócrates.
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Foram seis os líderes de oposição durante governos de maioria absoluta. Mas dois socialistas chegaram ao Governo e a Belém: António Guterres e Jorge Sampaio. Fazer oposição a um Governo maioritário tem sido mais difícil para o PSD, apesar de ser o partido que conquistou quatro das cinco maiorias absolutas que o país teve antes do resultado agora alcançado pelo PS. A história diz que, na oposição, os líderes sociais-democratas não resistem muito tempo. No mandato de José Sócrates, o PSD teve três presidentes.
Ser líder da oposição numa altura de maioria absoluta é uma função de desgaste. Politicamente, são logo vistos como líderes de transição, que não chegam a concorrer em legislativas. Foi isso que aconteceu no PSD, embora até nem tenha sido só pela dificuldade em fazer frente à maioria absoluta de José Sócrates, eleito após a queda do Executivo de Pedro Santana Lopes (2005), numas legislativas em que o PS conquistou 121 deputados.
No PSD pesaram também as lutas internas entre o "aparelho" e a vontade de as bases chegarem ao poder, sobretudo durante as lideranças de Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes: dois dos três presidentes sociais-democratas que fizeram oposição ao Governo de José Sócrates.
O terceiro líder do PSD a fazer oposição a Sócrates foi a ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite, que não conseguiu impedir a reeleição do socialista em 2009. Apenas lhe "tirou" a maioria absoluta. Sócrates acabaria por pedir a demissão em 2011, após o chumbo do PEC4, levando à entrada da troika em Portugal e seguindo-se o Governo PSD/CDS liderado por Pedro Passos Coelho.
Agora, é Rui Rio que terá de fazer oposição à maioria absoluta de Costa. Mas será por poucos meses, uma vez que o atual líder do PSD já anunciou que tenciona passar o testemunho até ao início do verão. O que fará com que Rui Rio iguale Durão Barroso, em termos de durabilidade, totalizando 4,5 anos de liderança mas com a dificuldade adicional de ter sido toda feita na oposição. Feito inédito nos sociais-democratas.
Três líderes em oito anos
Já os líderes socialistas têm sido mais resistentes quando estão na oposição a governos de maioria absoluta. E nem por isso se tornaram em líderes de transição, como aconteceu no PSD, onde, dos três presidentes que fizeram frente a José Sócrates, apenas Ferreira Leite conseguiu ser candidata a primeiro-ministro.
No PS, aconteceu até o oposto. Em oito anos de maiorias absolutas de Cavaco Silva (1987 e 1991), quatro dos quais com uns históricos 135 deputados, os socialistas conseguiram ter apenas três secretários-gerais, sendo que dois acabaram a conquistar os cargos políticos mais altos do país.
de constâncio a guterres
Os primeiros três anos absolutos de Cavaco Silva foram feitos sob a oposição de Vítor Constâncio (de 1986 a 1989). O seguinte secretário-geral socialista teve que se opor às duas maiorias absolutas de Cavaco Silva. Foi Jorge Sampaio, que derrotou Jaime Gama na corrida pela liderança do PS, tendo logo a difícil tarefa de encabeçar a candidatura à Câmara de Lisboa. E ganhou. Mas já não conseguiu derrubar Cavaco Silva nas legislativas de 1991, em que o líder do PSD teve 50,6%. Uma derrota que levou à queda de Sampaio no congresso de 1992, em que foi substituído por António Guterres.
Sampaio pode não ter sido capaz de tirar Cavaco do Governo, mas impediu-o de dar o salto imediato para Belém, ao derrotá-lo nas presidenciais de 1996. Quem acabou por se seguir a Cavaco à frente do Governo foi outro líder socialista que lhe fez oposição, nos últimos três anos da sua segunda maioria absoluta: António Guterres.
Pormenores
Poder dividido
Os socialistas venceram oito das 16 eleições legislativas realizadas desde 1975 e as restantes foram obtidas pelo PSD, por três vezes em coligação com o CDS-PP. Juntos, PS e PSD representam mais de dois terços do total de votos desde 1987.
Mandatos concluídos
Seis governos concluíram os seus mandatos: dois liderados por Cavaco Silva (1987 e 1991), um por António Guterres (1995), outro por José Sócrates (2005), um liderado por Pedro Passos Coelho (2011) e o anterior de António Costa (2015).