Sobem e descem ruas para levar comida a quem não pode sair, lavam ruas e passeios a um ritmo nunca visto, ou vão buscar encomendas à farmácia. Em homenagem à dedicação da sua equipa, a Junta de Freguesia de Santo António, em Lisboa, organizou uma jornada diferente, cujas imagens se tornaram virais
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Pensada como uma iniciativa interna para agradecer a forma empenhada como uma equipa de 32 funcionários, mais alguns voluntários, têm assegurado as necessidades básicas dos habitantes de Santo António - freguesia no coração de Lisboa - acabou por transformar-se numa jornada que serviu para dar ânimo a quem há dois meses se tem dedicado apenas a servir a população, garantindo que nada falta a quem está retido em casa, devido à pandemia de Covid-19. A divulgação das fotos e de um vídeo nas redes sociais da Junta tornou esse dia num fenómeno viral.
"Foram eles que mantiveram a freguesia viva nestes dias, portanto eles são mesmo os nossos super-heróis e achei que esta era uma maneira singela e original de lhes agradecer o esforço enorme que têm feito", explica ao JN Urbano o presidente da Junta de Freguesia de Santo António (JFSA) Vasco Morgado.
A jornada seria igual a todas as outras desde o início da pandemia. Ir ao supermercado ou à farmácia fazer compras e levá-las aos moradores, bem como entregar refeições prontas aos apoiados pela Junta. E, com especial atenção, recolher o lixo e proceder à lavagem dos espaços públicos, porque a situação atual obriga a cuidados acrescidos. Só que naquele dia do final da última semana as tarefas não foram feitas pela Raquel, pelo Marcos, pelo Pedro, pela Inês ou pela Paula. Quem chegou a casa dos cidadãos foram o Super-Homem, o Iron Man, o Thor, a Princesa Leia e outros super-heróis.
O esforço da minha equipa triplicou, mas senti, todos os dias, que o faziam com uma entrega total, sem pensar que também para eles o risco era maior, ou nas horas a mais que faziam
"Durante este mês e meio, aumentámos muito o nosso apoio social a vários níveis. Só em termos de ajuda alimentar passámos de 200 para 600 famílias, mas temos também quase uma centena de pessoas que não podem sair de casa, porque fazem parte de grupos de risco, e às quais temos de atender. O esforço da minha equipa triplicou, mas senti, todos os dias, que o faziam com uma entrega total, sem pensar que também para eles o risco era maior, ou nas horas a mais que faziam. Por isso o mínimo que podia fazer, era dizer-lhes obrigado", adianta Vasco Morgado, garantindo que a iniciativa deu uma "moral enorme" a todos os que nela participaram.
A divulgação do vídeo nas redes sociais atraiu também a atenção de terceiros, sobretudo de empresas que quiseram apoiar este esforço. "Até de outros concelhos recebemos donativos. Ainda esta semana chegou carne oferecida por dois talhos de Sintra", descreve o autarca. Ao todo são 64 os colaboradores da Junta envolvidos no apoio social, que, durante a pandemia, são divididos em dois grupos de 32, que alternam períodos de 15 dias a trabalhar em casa ou na rua.
Disparam pedidos de ajuda
O panorama não vai mudar nos próximos tempos, apesar do fim do estado de emergência, até porque os efeitos da crise causada pela Covid-19 já são bem notórios. "Nas últimas semanas, dispararam os pedidos de ajuda alimentar. No primeiro mês, as pessoas ainda receberam o ordenado e conseguiram aguentar-se. Mas, agora, alguns perderam o emprego e outros viram os seus rendimentos muito reduzidos e tiveram de nos vir bater à porta", refere o presidente da JFSA.
Com cerca de 12 mil habitantes, Santo António é a freguesia de Lisboa onde o metro quadrado para arrendamento é o mais caro da cidade e engloba a Avenida da Liberdade, onde estão as lojas mais luxuosas do país. Ao lado, há, porém, quem necessite destas ajudas e para isso lá estão os "super-heróis" a palmilhar ruas e a saltar telhados se preciso for.