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A Guerra Civil espanhola (1936-1939) registou uma grande perseguição à Igreja Católica. Quase sempre se disse que os mártires foram apenas de um dos lados, os nacionalistas. Mais uma vez, é a confirmação de que a história se escreve a partir dos vencedores e não dos vencidos.
Diga-se em abono da verdade que os vitoriosos, os nacionalistas, também martirizaram padres que foram capelães das forças que combateram as tropas do general Franco. É o caso de padres do País Basco. Pelo menos 14 foram mortos pelas tropas nacionalistas, em 1936 e 1937, embora muitos outros tenham sido também martirizados. Os 14 mortos pelas tropas nacionalistas não tiveram direito a funerais oficiais e os seus nomes não foram inscritos nos registos diocesanos e paroquiais.
Surpreendentemente, quatro bispos do País Basco recordam agora esses 14 padres e anunciam a celebração de uma missa no próximo dia 11, na catedral nova de Vitória.
Recorde-se que, durante a guerra, os bascos foram os únicos do lado republicano que continuaram a ter capelanias militares, a cargo de mais de 70 padres.
A decisão dos bispos bascos não foi bem acolhida no seio da Conferência Episcopal. Recorde-se que a Conferência Episcopal se regozijou, em 28 de Outubro de 2007, com a beatificação de 498 mártires da Guerra Civil e espera que brevemente sejam beatificados mais algumas centenas, mas nenhum do lado dos republicanos, como se não tivesse havido mártires.
Os quatro bispos bascos (Ricardo Blásquez, bispo de Bilbau, e o seu auxiliar, Mario Iceta; Juan María Uriarte, bispo de San Sebastián; e Miguel Asurmendi, bispo de Vitória) publicaram, no dia 30 de Junho último, a pastoral conjunta "Purificar a memória, servir a verdade, pedir perdão". Citam os nomes dos 14 sacerdotes, defendendo que só a verdade é um "pilar básico para construir a justiça, a paz e a reconciliação".
Os bispos bascos declaram que não querem "abrir feridas, mas ajudar a curá-las e a aliviá-las". O que está em questão é a "dignificação dos que foram esquecidos ou excluídos, mitigando a dor dos seus familiares".
Será celebrado um funeral conjunto porque não o tiveram quando foram mortos; será publicada uma resenha da vida dos mortos no boletim oficial de cada diocese; e serão registados os sacerdotes martirizados nos livros paroquiais correspondentes.