Entre o Porto e Terras do Bouro, pouco muda nas paróquias: há medo de sair de casa, procura-se dar conforto pelo telemóvel e ajuda para pagar as contas.
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Mais mortes, mais pobreza, mais solidão e menos ofertas são os pontos que unem as paróquias pequenas ou grandes, rurais ou urbanas, mais jovens ou mais envelhecidas.
"Desde há um ano que aumentaram os funerais, aumentou a pobreza e diminui o entusiasmo das pessoas", disse ao JN o padre Fernando Milheiro, 74 anos, pároco de Campanhã, Azevedo e Senhora do Calvário, no Porto. Em Terras do Bouro, nas seis paróquias a cargo do padre Almerindo Martins, 42 anos, "há muito medo no ar". Os cerca de 1300 paroquianos de Souto, Balança, Paçô, Ribeira, Santa Isabel do Monte e Valbom assistem à missa online mas, já antes do segundo confinamento, poucos saíam de casa.
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"Por motivos de segurança, poucas pessoas cabiam na igreja, mas também se notava que tinham medo", disse o padre Almerindo. Dos 35 funerais que fez em 2020, três foram de vítimas de covid. No Porto, numa das zonas mais populosas da cidade, este mês, já se realizaram 21 funerais. No ano passado, nas três paróquias coordenadas pelo padre Milheiro, foram 386.
"É muita gente a morrer, são muitos funerais, muitas famílias destroçadas", salienta o padre que, "de um dia para o outro", passou a atender mais de 50 telefonemas por dia de pessoas "que precisam de falar, de desabafar e não têm mais ninguém a não ser o seu pároco". Embora em diferentes geografias, os padres partilham outra realidade: com menos paroquianos, sem missas presenciais, sem celebrações como a Páscoa, as paróquias começam "a ter dificuldade em assumir as despesas".
"Em 2020, usamos o fundo de maneio para pagar as contas da luz, mas este ano está a começar e já está a ser muito complicado", lamenta Almerindo Martins. "As receitas são muito menores porque o único rendimento que havia eram as esmolas", frisa Fernando Milheiro. Em contrapartida, sobem os pedidos de ajuda. "Estamos a ajudar diretamente 70 famílias com cabazes de alimentos e a ajudar a pagar medicamentos e contas da luz e da água".