Maioria dos progenitores não apresenta reservas à vacinação dos menores, mas quer ouvir opinião médica. Mais de 80 mil entre os 12 e os 15 anos autoagendaram vacinação no 1.º dia.
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"Literalmente afogada em pedidos de ajuda por parte dos pais". É assim que Maria João Baptista, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia Pediátrica, que acompanha crianças e adolescentes que fazem parte de grupos de risco, tem passado os últimos dias. As dúvidas dos progenitores são mais que muitas quanto à toma da primeira dose da vacina contra a covid-19, relatam vários pediatras ouvidos pelo JN. A imunização começa este fim de semana (14 e 15 de agosto) para cerca de 102 mil utentes de 16 e de 17 anos. Nos dois fins de semana seguintes (21 e 22 e 28 e 29 de agosto), é a vez dos adolescentes entre os 12 e os 15 anos. Mais de 80 mil já autoagendaram.
A imensidão de pedidos de esclarecimento que chegam até à cardiologista pediátrica ainda reflete "algumas angústias" dos progenitores, sobretudo perante os casos pontuais relatados de pericardite e miocardite, inflamações no coração, associados à infeção do vírus SARS-CoV-2 e à toma da vacina contra a covid-19. Para Maria João Baptista, algo é claro: "um adolescente que tenha uma história de alergias muito graves a medicamentos/vacinas ou de miocardite deve falar com o médico de família ou pediatra". Esclarece ainda a também diretora clínica do Hospital de São João que é a "favor da vacinação".
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A atenção redobrada dos pais não significa mais nada do que a procura da segurança e confiança de um aconselhamento médico. Caldas Afonso, pediatra e diretor do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), relata ao JN que a "instabilidade" na comunicação e as opiniões distintas em torno da vacinação dos mais novos criaram "ansiedade" nos adultos.
esclarecer pais e filhos
O primeiro-ministro disse ontem, após uma visita à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), que "cada um fez aquilo que lhe competia". "As decisões da DGS são puramente técnicas", acrescentou António Costa, realçando que o Governo e a "task force" apenas se prepararam para o parecer final da autoridade de saúde pública, sem que tivesse sido feita qualquer pressão.
"Não tenho dúvidas de que todos aqueles com quem tenho falado, todos os dias, estão desejosos de inscrever os filhos para fazer a vacinação nos dias anunciados", adianta Caldas Afonso. A mesma experiência está a ter a pediatra Maria do Céu Machado, que ontem respondeu a "muitas mensagens" de pais a perguntar a sua opinião sobre a vacinação. "Respondo a todos que devem vacinar os filhos e autoagendar", refere. Ninguém tem ligado com receios ou hesitações, avançou a médica.
Já o vice-almirante Gouveia e Melo reforçou a importância da "colaboração de toda a gente", durante uma visita ao centro de vacinação do Porto. "Diria que a coisa mais racional é vacinar as crianças porque a vacina é segura, estável e protege contra o vírus", disse o coordenador da "task force".
Para os clínicos ouvidos pelo JN, os profissionais de saúde têm a tarefa de esclarecer pais e filhos, com informação "muito objetiva" e "dados concretos", diz Maria João Baptista. Do outro lado, não deverá ser difícil ter a aceitação, até porque "a maioria das famílias são sensatas e defendem a vacinação para a saúde dos seus filhos", conclui Caldas Afonso.