Há quem fale em "elefante branco", sem utilidade futura e quem saúde construção de grande parque urbano.
Corpo do artigo
Os organizadores dos maiores festivais de música em Portugal estão divididos quanto à utilização futura do polémico palco-altar da Jornada Mundial da Juventude.
A Câmara de Lisboa diz que o investimento milionário na estrutura "ficará na cidade", uma vez que esta será usada para eventos internacionais musicais e culturais. Os promotores de festivais ouvidos pelo JN dizem porém que a altura de nove metros não é suficiente para iniciativas de grande dimensão. Há, no entanto, quem defenda que a área de 70 hectares é "fabulosa" para a realização de eventos.
A construção do palco-altar que vai receber o Papa Francisco, em Lisboa, não reúne consenso devido aos custos envolvidos, de 4,2 milhões de euros, e à possível utilização futura, duvidosa para alguns. "O erário público está a pagar o palco e no futuro pode ser um elefante branco. É um gasto despropositado que não faz sentido nenhum. Para eventos não será de certeza, Portugal não tem capacidade para receber mais de 100 mil pessoas", acredita Jorge Veloso, organizador do North Music Festival.
Jorge Lopes, promotor do festival Meo Marés Vivas, diz que "é sempre bom haver espaços dotados de infraestruturas para eventos", mas admite que "a altura do palco não responde às necessidades de um festival de grande dimensão". "Um palco com nove metros de altura não dava para o Marés Vivas. Tem a ver com questões técnicas: por baixo do palco há várias toneladas de iluminação e de equipamentos que precisam de espaço e capacidade de carga. Nove metros é um coliseu, são espetáculos mais pequenos", explica.
Área é "um absurdo"
Jorge Lopes refere ainda que o valor de um palco de um festival de música ronda os 150 mil euros, sendo difícil perceber o investimento no palco-altar. "É uma enormidade, o custo do palco (4,2 milhões de euros) dá para fazer palcos para os nossos festivais durante 50 anos", exemplifica. Quanto à área do palco, de 5000 metros quadrados, o organizador do Marés Vivas considera "um absurdo". "O maior festival português é o Rock in Rio, com 80 mil pessoas. Um milhão de pessoas (esperadas para a Jornada) é quase 15 vezes mais. Nunca mais vai acontecer um evento dessa dimensão, também não há artistas para isso", considera.
Álvaro Covões, promotor do festival Nos Alive, diz que prefere olhar para "o recinto" que vai ficar com uma área "fabulosa de 70 hectares". "Está-se a falar muito do altar, mas para nós, organizadores, poder contar com mais um recinto é a melhor notícia que podíamos ter. Prepararem um parque urbano para a realização de grandes eventos, para quem trabalha nesta área, é uma excelente notícia, assim como para o público, que vai ter oportunidade de ver mais eventos que acontecerão em Lisboa", defende o empresário que ressalva, contudo, que "o Passeio Marítimo de Algés (onde se realiza o Nos Alive) continuará a ser o lugar de eleição".
O JN contactou ainda os promotores João Carvalho, do festival Paredes de Coura, e Luís Montez, do Meo Sudoeste, que recusaram comentar o assunto.