Com Páscoa em casa e sem celebrações do mês de maio, muitos milhares de ofertas ficaram por fazer. Já há padres a defender o fim dos peditórios para fora.
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A Igreja Católica portuguesa terá deixado de receber 50 milhões de euros nos cerca de três meses em que o culto foi encerrado ou reduzido por causa da covid-19. O valor é uma estimativa feita por fontes ligadas à gestão financeira de dioceses do Norte. Março, abril e maio são meses tradicionalmente "generosos a nível financeiro" e que permitem juntar dinheiro para o resto no ano. As cerimónias com a presença de fiéis são retomadas amanhã, mas a crise parece ter vindo para ficar.
Com a Páscoa "cancelada" e o mês de maio sem as centenas de celebrações alusivas a Nossa Senhora, também as esmolas e as ofertas não foram entregues porque as caixas estão no interior dos templos e as igrejas estavam fechadas. Maio é o mês dos casamentos. Na Basílica do Bom Jesus, em Braga, dos 174 marcados para este ano só 47 ainda não foram cancelados. Por cada cerimónia, a Confraria deveria receber 200 euros.
No orçamento dos padres, contam ainda as missas celebradas e não pagas. Durante o confinamento, a maioria dos sacerdotes continuou a celebrar. O valor de uma intenção (na eucaristia) é de dez euros (o estipêndio), sendo que cada sacerdote guarda apenas o valor de uma delas. O resto fica para a diocese.
Ao JN, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) admitiu que "a Igreja vive dos ofertórios e das coletas". Manuel Barbosa lembrou que a reabertura aos fiéis coincide com a celebração da festa do Pentecostes, cujo ofertório nas missas costumava ser para o Apostolado dos Leigos. "Este ano, a verba ficará para as paróquias".
O cónego João Paulo Alves, reitor do Santuário do Bom Jesus, abriu o templo a 7 de maio já com a sinalética para que os fiéis saibam onde se sentar e que caminhos percorrer. Reconhece as dificuldades financeiras e diz que é altura de a Igreja se reinventar. "Até agora, havia peditórios nacionais para entidades ligadas à Igreja, mas será que esse dinheiro não deve ficar para as dioceses?", questiona.
O ecónomo da diocese de Braga, padre Roberto Mariz, diz que não há dados concretos, mas não tem dúvidas de "que as receitas baixaram 90% na maioria dos casos e 100% em algumas situações".
Contactada pelo JN, a diocese do Porto - uma das três que recorreram ao lay-off (mais Algarve e Angra do Heroísmo) - recusou comentar a quebra. Só Faro não colocou sacerdotes em lay-off. No Porto, há 477 paróquias e mais de 300 padres. A diocese nunca informou quantos recorreram à ajuda do Estado para receber o salário. Revelou apenas que colocou "uma parte" dos seus colaboradores em lay-off, incluindo elementos do Clero.
Em Angra, o cónego António Pereira, responsável pelas finanças, confirmou haver "paróquias com grandes dificuldades". E, sem revelar números, o Santuário de Fátima também admite que sofre com a pandemia. "Estamos há mais de dois meses sem peregrinos e, não tendo peregrinos, não temos rendimentos", explicou fonte oficial.
Impactos
Páscoa
A 16 de abril, a celebração foi privada. Poucos pagaram os chamados "direitos paroquiais" e ofereceram o "folar" ao sacerdote.
Maio
O "mês de Maria" motiva centenas de cerimónias, além de Fátima. Este ano, não houve procissões, nem missas, nem ofertas à Virgem.
Romarias
Com igrejas fechadas, não foram pagas promessas. E as caixas das esmolas no interior travam as doações.
Máscara e desinfetante
Ninguém entra na igreja sem máscara e sem colocar desinfetante nas mãos. A máscara só pode ser tirada para comungar.
Sem "amém"
Comunhão será feita na mão, em silêncio e seguindo as regras de cada igreja. Só nessa altura é possível tirar a máscara.
Não há ofertório
Nem abraço da paz. No final da missa, haverá cestos onde os fiéis podem colocar donativos. Também não haverá água benta à entrada.
Regras na missa
Lugares marcados
A entrada será por ordem de chegada. Há lugares marcados nos bancos, respeitando as distâncias recomendadas pela DGS. Embora não seja proibido, a igreja pede às pessoas que pertencem a grupos de risco que não participem fisicamente nas missas.
Regras na missa
O Santuário de Fátima retoma as missas comunitárias amanhã, com novas regras de higiene e segurança, que serão transmitidas aos peregrinos pelo sistema sonoro e pelos vigilantes distribuídos pelo recinto. A maioria das missas será na Basílica da Santíssima Trindade, com lugares marcados e um circuito de entrada e saída. À entrada está prevista a colocação de dispensadores de máscaras de proteção.