Desempenhos de beneficiários da ASE são sempre inferiores. Português no 5.º e Matemática no 8.º preocupam.
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A privação de contacto com o professor com a interrupção das aulas presenciais devido à pandemia, agravada pela falta de equipamentos e Internet para acesso a aulas síncronas, tornou mais evidentes as diferenças de aprendizagem entre os alunos desfavorecidos e os colegas que não precisam de Ação Social Escolar (ASE).
Segundo um diagnóstico das aprendizagens e o papel do contexto no desempenho dos alunos, divulgado ontem pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), as médias dos desempenhos dos beneficiários de ASE são sempre inferiores às dos outros alunos.
Por exemplo, no sexto ano de escolaridade, as diferenças nas classificações são de 9,6 pontos percentuais (pp) na literacia da leitura e da informação, de 7,7 na literacia científica e de 6,8 em matemática. Nesta, agrava-se no nono ano, com 8,3 (pp).
No contexto da pandemia, as diferenças entre os alunos mais desfavorecidos que nunca tiveram acesso a professor ou aulas síncronas são ainda maiores. Na literacia da leitura e da informação, foram de 10,9 pp no sexto ano e de 9,8 no nono e de 9,1 pp na literacia da matemática no sexto.
Distinções de classe
"Nada substitui o papel do professor e o que este estudo nos mostra é que, mesmo em contexto de ensino à distância, a presença do professor em interação direta com os alunos é muito melhor para as aprendizagens", comentou o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, na apresentação do estudo.
No nível três de proficiência da literacia da leitura, exemplifica o trabalho, 44,9% dos alunos do terceiro ano foram capazes de retirar informação implícita de um texto e reconstituir relações lógicas, mas somente 39,6% dos alunos beneficiários de ASE o conseguiram, enquanto esse objetivo foi alcançado por 47,2% dos seus colegas.
A leitura é uma literacia fundamental para o desenvolvimento das restantes, especialmente as científica e matemática e para o conjunto do currículo, salienta o estudo, que tratou uma amostra de 23 338 alunos do terceiro, sexto e nono anos de escolas públicas e privadas.
O documento salienta também as diferenças, ainda mais acentuadas entre alunos de escolas públicas e estabelecimentos privados. No terceiro ano, a diferença média mais relevante (leitura) é de 12,3 pontos, sendo de 10,6 pp na matemática do sexto e de 13 pp na matemática do nono. Na amostra, 43% dos alunos das escolas públicas são beneficiários da ASE.
Outro estudo, apresentado também ontem, sobre a aferição por amostragem no último ano letivo (uma vez que não houve provas de aferição), salienta as fragilidades no Português do quinto ano e na Matemática do oitavo.
Gramática e dados
A aferição por amostra ao Ensino Básico em 2021 indica como domínios de maior dificuldade no segundo ano a Gramática (Português), Tratamento de Dados (Matemática) e Sociedade (Estudo do Meio): 65,1% dos alunos no primeiro caso, 44,8% no segundo e 47,4% no terceiro estão na categoria "Não conseguiu/Não respondeu". Destacam-se pela positiva a Oralidade (Português), com 64% na categoria "Conseguiu", e de Tecnologia (Estudo do Meio), com 64,1%.
Leitura e interação
No quinto ano, os domínios da Leitura e Educação Literária (Português) e Interação e Produção Escritas (Inglês) são os mais frágeis: 45,7% e 57,6%, respetivamente, classificaram-se na categoria "Não conseguiu/Não respondeu".
Matemática em baixo
Na prova de Inglês do oitavo ano, o domínio Leitura e Uso da Língua foi o mais frágil, com 20,2% na categoria "Não conseguiu/Não respondeu" e 40,3% em "Revelou dificuldades". Neste ano de escolaridade, 94,1% mostraram dificuldades. No domínio Organização e Tratamento de dados, 62,1% estão na categoria "Não conseguiu/Não respondeu" e 32% ficaram cotados como "Revelou dificuldades".