No Hospital de Braga, apesar da covid-19, os pais e mães estiveram sempre na neonatologia. Unidade incentiva o progenitor a dar colo ao recém-nascido.
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É tudo novo para Casimiro Carneiro. Não pôde acompanhar a esposa no hospital, não esteve presente no parto mas, apesar de a filha Rita ter nascido às 32 semanas, com 1,590 gramas e 39 centímetros de comprimento, pega-lhe ao colo, dá-lhe banho e cuida dela. "A maior parte do tempo, estou sentado com a Rita deitada no meu peito e fico quietinho a olhar para ela e a adorá-la", disse o técnico de peças para a indústria automóvel.
Residente em Guimarães, Casimiro vai todos os dias ao Hospital de Braga para estar com a filha prematura. Ele e Clementina Peixoto, a mãe da bebé Rita, trocam de lugar ao longo do dia. "Por causa da covid-19, só pode estar um pai com a bebé e o normal é os pais irem trocando: entra a mãe e sai o pai, e ao contrário", explicou.
A pandemia não afastou os pais do Serviço de Neonatologia do Hospital de Braga. Com capacidade para 20 bebés prematuros, o serviço não teve nenhum caso de covid-19. As rotinas foram alteradas e os espaços modificados mas a unidade nunca foi encerrada aos pais. "Nunca separamos as mães dos bebés e os pais puderam sempre estar com os filhos. A única condição é que não podiam estar os dois em simultâneo com o recém-nascido", disse ao JN Almerinda Barroso Pereira, chefe do Serviço de Neonatologia. "Nem o pai nem a mãe são visitas. Eles integram a equipa que trata dos bebés", salientou a médica.
Método Canguru
"As enfermeiras estão sempre a incentivar para que estejamos com os nossos filhos ao colo, ensinam-nos a dar banho, a mudar a fralda e como devemos pegar neles", disse ainda Casimiro Carneiro. Mesmos os recém-nascidos entubados são colocados ao colo dos pais. "Praticamos o Método Canguru, que consiste no contacto pele a pele do bebé com o peito do pai ou da mãe", explicou Almerinda Barroso Pereira. O Método surgiu na Colômbia, nos anos 70, quando um pediatra, na falta de incubadoras disponíveis para todos os bebés prematuros, "transformou" o colo dos pais numa proteção para recém-nascidos, mantendo os prematuros quentes e intensificando a relação entre os pais e o bebé.
"A pandemia tirou-nos muitas coisas, mas não roubou o direito aos pais de estar com os filhos", afirmou Juliana Costa, enfermeira, há 10 anos a trabalhar na neonatologia. "No caso de gémeos, podem estar o pai e a mãe em simultâneo no hospital. Nos outros casos, o pai e a mãe vão se revezando", explicou.
Bernardo, um dos bebés mais pequeninhos da unidade, nasceu com 30 semanas, 940 gramas e 34 centímetros. Telma Serra, a mãe, não esquecerá tão cedo o "trauma": "Eu e o pai estávamos para preparados para que o bebé nascesse na altura certa e para o levar para casa". Em vez disso, o pai não pode acompanhar mãe e filho no parto e, apesar de "estar tudo a correr muito bem", ainda é uma incógnita a data para que a família se reúna em Famalicão, na casa que habitam e no quarto que prepararam para o filho. Telma está com Bernardo na neonatologia, mas o pai, todos os dias, "está com o menino".
"No dia em que dei o primeiro banho à minha filha tremia todo. Tinha medo de a deixar cair e de a partir. Ainda bem que aconteceu no hospital, com as enfermeiras ao lado", finalizou Casimiro.
Pormenores
De todo o Minho - Prematuros de todo Minho são enviados para o Hospital de Braga. O serviço, para além dos bebés com patologia médica, recebe recém-nascidos para cirurgia.
Nascimentos - Há vários anos que o número de nascimentos se mantém acima dos 3000 por ano no Hospital de Braga. Em 2020, nasceram 3109 bebés.
274 bebés prematuros estiveram no Serviço de Neonatologia do Hospital de Braga em 2020, ligeiramente mais que no ano anterior (259).
